A angústia de explicar o 7 x 1 ao mundo
Faltavam apenas alguns segundos para eu entrar ao vivo, numa transmissão para todo o mundo. O dia era 8 de julho de 2014 e eu, como faria naquela Copa, estava comentando alguns dos jogos para a rede internacional CNN.
Eu iria entrar no intervalo de Brasil x Alemanha.
De repente, o apresentador do programa, um britânico, vira para mim e pergunta: o que você vai dizer ao mundo?
Não deu tempo para responder. O programa foi ao ar, ao vivo a partir de uma cobertura com vistas para o estádio e transmitido para dezenas de países.
O apresentador mostrou o que já era o maior desastre da história da seleção, com um placar de 5 x 0 ao final do primeiro tempo.
Sem saber se me abraçava, se comentava ou como reagiria, repetiu o que alguns estrangeiros tendem a fazer do alto de sua soberba: nos tratou como um povo irresponsável, irracional e imaturo.
Sua pergunta para mim: você teme uma eclosão da violência nas ruas do Brasil diante do resultado?
Tentei desfazer essa noção de uma república bananeira e explicar que ali estava o sepultamento de uma organização que havia transformado o futebol em um negócio, sequestrado o esporte sem qualquer preocupação com a preparação, modernização ou inovação.
Na cara do apresentador e da equipe que estava atrás das câmeras, senti que eu havia fracassado em tentar explicar o inexplicável.
Uma década depois, continuo sendo questionado, zombado e, por vezes, consolado, inclusive por meus filhos - estrangeiros - que recém tinham nascido em 2014.
Passei esse dia 8 de julho de 2024 pensando o que eu poderia ter dito há dez anos, naquela transmissão ao vivo. Não encontrei respostas. Apenas a frase do argentino Julio Cortázar, que martela a ideia de que as palavras nunca alcançam quando o que precisa ser dito transborda a alma.
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