Homenagem nos EUA marca o resgate internacional de Carolina Maria de Jesus
Meio século depois de ser traduzida para o inglês, Carolina Maria de Jesus voltará a ser resgatada no plano internacional. Neste mês, eventos vão homenagear a escritora brasileira em Nova York e Washington DC.
Primeira mulher negra brasileira a vender um milhão de livros no mundo, a escritora vai ganhar um ciclo de debates. Em "Carolina - A Escritora do Brasil", quatro painéis vão reunir especialistas e admiradores entre 15 e 17 de outubro nas duas cidades americanas.
A iniciativa acontece no ano em que se celebram os 110 anos de nascimento de Carolina Maria de Jesus.
O debate conta com Vera Eunice —filha de Carolina e uma das personagens centrais do livro "Quarto de Despejo"— e Tom Farias, biógrafo de Carolina, jornalista, colunista da Folha de S.Paulo e renomado escritor.
"A importância de levar Carolina Maria de Jesus para os Estados Unidos é simbólica. Nos anos 1960, por causa da tradução do best-seller "Quarto de Despejo", sua escrita passou a circular nos EUA. Agora, o objetivo é resgatá-la, no plano internacional, de onde ela nunca deveria ter saído", disse Tom Farias.
"Carolina de Jesus, como mulher negra, oriunda do pós-escravidão, ou seja, descendente direta de pessoas covardemente escravizada do continente africano para o Brasil, é a melhor resposta para ser dada contra a supremacia do racismo —que grassa tanto aqui como em terras estadunidenses", defendeu o escritor.
"Nesse sentido, falar de Carolina, de suas obras e de sua trajetória está dentro desse sentido de simbologia que condiz também como a posição que uma mulher como ela, ex-moradora de favela, precisa ter no Brasil e no mundo", disse.
Segundo ele, às portas de uma importante eleição nos Estados Unidos, onde uma mulher negra, Kamala Harris, encabeça uma chapa eleitoral com chances de vitória, "Carolina de Jesus faz todo sentido e legitima o papel das mulheres negras na condução da história mundial".
"Com apoio da diplomacia brasileira, universidades e instituições culturais americanas, a atividade nasceu do projeto Mulheres na Escrita, coletivo de autoras de língua portuguesa em solo americano criado pela bacharel em letras Ana Cláudia Dias, a produtora Luciana Kornalewski e a artista Nalü Romano", explicam os organizadores.
O evento foi idealizado pelo grupo Mulheres na Escrita, que organizou a primeira feira do livro da Língua Portuguesa com foco em mulheres escritoras em Nova York, em 2019. O grupo promove a leitura e a escrita, estimulando que mais mulheres da lusofonia tirem seus textos das gavetas, dando voz às narrativas femininas.
Também atua no evento Suzane Sena, uma produtora cultural brasileira radicada em Nova York. "Este é um projeto de reparação histórica, iluminando a memória e as obras de nossa grande escritora que retratou com força e coragem a dura realidade das mulheres periféricas do nosso país durante meados do século 20", diz Suzane.
A programação
Com o apoio do consulado brasileiro em New York e da embaixada brasileira em Washington DC, os eventos começam no dia 15 de outubro, na Columbia University (Nova York). No dia 16, o debate ocorre no The People's Forum. O painel itinerante termina no dia 17, na Georgetown University, em Washington DC.
"Carolina de Jesus está entre os mais importantes nomes da cultura brasileira, mulher negra de origem popular pioneira na literatura, área que ainda carece de diversidade. Isso atraiu parceiros de peso, como algumas das mais prestigiadas instituições de ensino superior do mundo", diz Suzane.
"Quarto de Despejo", traduzido para o inglês como "Child of the Dark", tem versões em 13 idiomas, levando a realidade das favelas brasileiras para o mundo. Para os especialistas, a escrita de Carolina ajudou a despertar a consciência sobre as questões sociais no Brasil e em outros países em desenvolvimento.
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
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