Jamil Chade

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Nem flertar com a morte mudou Trump; discurso repetiu ataques e mentiras

Horas antes de Donald Trump subir ao palco durante a convenção republicana, na noite de quinta-feira, seus assessores tinham espalhado a suposta informação de que o candidato à eleição presidencial fez questão de reescrever todo seu discurso depois do atentado que sofreu no fim de semana. Os eleitores - e o mundo - poderiam conhecer um Trump mais sereno, mais espiritual, mais unificador e até, quem diria, mais humilde. Afinal, a morte acabava de ter flertado com ele.

Uma parcela da imprensa comprou a versão e "analistas" do partido republicano insistiam em entrevistas como, nos últimos dias, ele havia até mudado sua expressão corporal, sendo mais "carinhoso" e "com um olhar doce".

Mas uma placa gigante de luzes com as letras de seu nome no salão indicava que aquele homem que passou a vida de superlativos, mesmo quando eram mentiras, talvez não havia sido totalmente transformado pela experiência de questionamento existencial.

Também deveria ter servido de alerta o fato de que, antes de Trump, o palco foi ocupado pelo lutador Hulk Hogan, que rasgou sua camisa ao som do rock de AC/DC.

Trump começou sua fala relembrando cada aspecto do atentado e apelando por uma unidade do país - claro, ao redor dele. Mas, como não se aguentasse dentro de si, logo retornou aos seus princípios e instintos mais profundos. Como o lutador que o precedeu, Trump rasgou sua fantasia e retomou os ataques e mentiras.

Chamou alguns de seus opositores de "loucos" e disseminou como pôde teorias conspiratórias sem quase base na realidade. Acusou os democratas de terem "usado" a covid-19 para impedir que ele vencesse a última eleição e mentiu sobre dados de criminalidade.

Omitiu as acusações formais que existem contra ele por ameaças ao sistema democrático e afirmou que seria o único que poderia "salvar" a democracia americana.

Seus slogans e promessas preferidas foram mantidos. Anunciou que ira realizar "a maior operação de deportação da história do país".

O tom usado parecia não sintonizar com a indicação que ele mesmo fez, no início do discurso, de que não se poderia demonizar as diferenças políticas.

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Mais solene em certos trechos do discurso de 91 minutos, Trump pode ter ganhado a simpatia de muitos diante de um atentado que quase acabou com sua vida. Ele ainda colocou, sem dúvida, um ponto final a qualquer espaço para vozes dissonantes dentro dos republicanos. Hoje, é o seu partido.

Mas, menos de uma semana depois de ver uma bala rasgar sua orelha, ele deixou claro que não mudou. E nem suas mentiras e ameaças à democracia.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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