Jamil Chade

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Justiça venezuelana acata pedido de prisão de candidato à Presidência

Num ato que pode resultar num aprofundamento ainda maior da crise na Venezuela, a Procuradoria-Geral em Caracas anunciou um pedido de prisão do candidato presidencial Edmundo González, opositor de Nicolás Maduro nas eleições de julho. Horas depois, um tribunal de primeira instância acatou a solicitação.

A ordem de captura ficará sob a responsabilidade do Corpo de Investigações Científicas, Criminais e Criminalísticas e muda de forma dramática qualquer perspectiva de uma mediação. Fontes diplomáticas de diferentes governos confirmaram ao UOL que, se efetuada, a prisão colocará uma pressão ainda mais intensa da comunidade internacional sobre o governo de Nicolás Maduro.

De acordo com a decisão, a força destacada para sua prisão deve colocar o opositor à disposição da Procuradoria, de forma imediata, para que uma audiência possa ocorrer. O Ministério Público terá 48 horas para levar o opositor diante do tribunal, uma vez que sua captura seja realizada. A corte que aprovou o pedido de prisão é especializada em crimes vinculados ao terrorismo.

Maria Corina Machado, líder da oposição, denunciou o gesto, alertando que Maduro havia perdido "toda a noção da realidade". "Ao ameaçar o presidente eleito, apenas conseguem que nos unamos ainda mais e que haja um aumento do apoio dos venezuelanos e do mundo a Edmundo González", disse a opositora.

O documento que solicita a prisão, obtido pelo UOL, menciona crimes de conspiração e sabotagem ao sistema. Um das principais críticas por parte da ONU ao governo de Maduro é o seu controle de todo o sistema judiciário, incluindo a Procuradoria e cortes.

Maduro, dias depois da eleição, havia defendido a prisão tanto de González como de Corina Machado. Agora, seu sistema judicial colocou em andamento o processo. Além do pedido de prisão do opositor, a repressão de Maduro deteve mais de 2.000 pessoas nas últimas semanas, segundo a ONU.

Edmundo González, segundo a denúncia, é alvo de uma investigação que apura a disseminação de informações por parte do site "Resultados com VZLA", responsável por divulgar dados sobre a eleição.

Maduro anunciou que foi o vencedor do pleito, mas nunca divulgou as atas das sessões eleitorais. González, por sua vez, também declarou ter vencido.

O pedido de prisão ocorre depois que o opositor se fez ausente ao ser convocado pela terceira vez pela Justiça venezuelana. A última convocação não respeitada foi na última sexta-feira. Ele responderia por usurpação de funções, falsificação de documento público, instigação à desobediência às leis, associação para cometer um crime e conspiração.

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No site mantido pelos grupos de oposição, os resultados mostram que González venceu a eleição, a partir de uma amostra de atas. A ONU considerou que as atas obtidas eram verídicas, assim como a União Europeia.

Brasil acompanha com "preocupação" e vê risco de fim de espaço de mediação

A notícia do pedido de prisão do líder da oposição foi recebida com preocupação por membros do governo brasileiro. O temor é que, se efetivada, a ordem possa enterrar de vez qualquer chance de uma saída política para a crise na Venezuela.

A esperança do Brasil e da Colômbia é que um plano possa ser estabelecido para conduzir o país a um governo de aliança nacional e, depois, a uma nova eleição. O pacote seria acompanhado pelo fim das sanções internacionais contra a Venezuela e uma anistia a todos, de ambos os lados do confronto político.

Mas, com a prisão do principal nome da oposição, qualquer chance de um diálogo fica comprometida.

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