Governo Maduro diz ao Brasil que irá acatar resultado; oposição não garante
O governo brasileiro foi informado por autoridades venezuelanas que Nicolás Maduro vai reconhecer os resultados da eleição, realizada neste domingo (28) na Venezuela, e que é considerada como estratégica para toda a região.
Os interlocutores brasileiros, porém, não receberam a mesma garantia por parte da oposição, que insiste que primeiro vai querer garantias sobre o procedimento de contagem dos votos e sugerem que uma apuração paralela também pode ocorrer.
A eleição é a aposta do Brasil para tentar normalizar a relação da Venezuela com o mundo, assim como reduzir a tensão para permitir uma estabilização do fluxo migratório e de refugiados.
Ao longo dos últimos dias, uma delegação enviada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e liderada pelo embaixador Celso Amorim se reuniu com o chefe da diplomacia venezuelana e outras autoridades. O UOL apurou que, em todos os contatos, os representantes do governo Maduro sinalizaram que não vão questionar o que sair das urnas.
As garantias foram dadas depois de um período de turbulência e dúvidas. Maduro alertou que haveria um "banho de sangue" caso ele não vencesse e, em manobras, desenhou as cédulas de votação de uma forma que pode causar confusão ao eleitor.
Com o Brasil, a relação também foi estremecida depois que o presidente venezuelano, sem provas, acusou o sistema eleitoral nacional de não registrar controles suficientes. Os comentários levaram o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) a cancelar o envio de duas pessoas que observariam o pleito no país vizinho. O informe do TSE seria público, caso a missão tivesse sido mantida.
Mas a delegação brasileira em Caracas também manteve contatos com a equipe dos candidatos de oposição. O UOL apurou que, nessas reuniões, não houve a mesma garantia de reconhecimento imediato do resultado da eleição.
O argumento desses grupos é de que tudo vai depender da condição de apuração. No caso de uma vitória da oposição, porém, o reconhecimento seria garantido.
A expectativa é de que os primeiros resultados poderão ser conhecidos entre 22h e 23h deste domingo, horário de Caracas.
Esforço do Brasil é de manter todos comprometidos
A operação de articulação do Brasil na Venezuela começou no início de 2023. Lula considerou que a estratégia adotada por Jair Bolsonaro de isolamento havia fracassado e minava os interesses nacionais.
Em fevereiro do ano passado, Lula conversou com o presidente Joe Biden sobre a necessidade de permitir que um processo eleitoral pudesse colocar um fim à crise. Nos meses seguintes, americanos mantiveram conversas confidenciais com o governo Maduro e com a oposição e, em outubro de 2023, um acordo foi estabelecido em Barbados.
Em troca, Biden sinalizou que repensaria as sanções contra Caracas, liberou um aliado de Maduro que estava detido e que faria concessões sobre os venezuelanos em território americano.
Desde então, tanto Washington como Brasília vem trabalhando para assegurar que todos respeitem o acordo, as regras eleitorais, se mantenham engajados no processo sem boicotes e que os resultados sejam aceitos.
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