Amorim sugere nova eleição na Venezuela, mas governo Lula insiste em atas
O representante da presidência para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, sugeriu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a realização de novas eleições na Venezuela, como forma de superar a crise no país vizinho. Mas fontes no Itamaraty confirmaram ao UOL que esse não é o posicionamento do governo brasileiro e que, no diálogo com as partes envolvidas no processo e com parceiros da região, a proposta que está sobre a mesa é a apresentação das atas de cada uma das sessões eleitorais.
No Palácio do Planalto, o posicionamento também indica que nada mudou em relação à estratégia original do Brasil. A ideia de sugerir novas eleições, pelo menos por enquanto, não faz parte do posicionamento oficial do governo brasileiro.
Na semana passada, durante a reunião ministerial em Brasília, Lula chegou a mencionar a ideia da nova eleição durante o debate sobre a situação no país vizinho. A informação foi publicada pelo jornal Valor Econômico. Ele, porém, se referia a uma proposta que havia sido aventada por Amorim.
O diplomata, segundo fontes em Brasília, teria apresentado a proposta ao presidente, depois de consultas com interlocutores estrangeiros. Amorim, ao jornal Valor Econômico, indicou que a proposta era embrionária e que sequer havia conversado com os parceiros latino-americanos — mas admitiu que esse caminho envolveria uma contrapartida, com a retirada de sanções estrangeiras.
Ao UOL, fontes em Brasília revelaram que uma das preocupações do governo é justamente sobre a validade das atas como instrumento de negociação. O temor é de que, quanto mais o tempo passar, menor será a chance de a oposição e mesmo governos estrangeiros aceitarem a veracidade das atas.
A transparência exigida, portanto, poderia ser insuficiente para destravar o processo.
Do outro lado, a convocação de nova eleição exigiria um esforço para garantir que, desta vez, o processo seja justo. Para isso, porém, Maduro não apenas teria de aceitar reconvocar os venezuelanos às urnas, mas também modificar a forma de controle da eleição.
Um incentivo a ele poderia ser a retirada de sanções. Em troca, ele aceitaria a entrada de equipes internacionais para monitorar o processo. O problema é que, nos últimos meses, Maduro tem expulsado, desconvidado ou tachado como persona non grata alguns dos principais institutos de observação de eleições.
Algumas delas, como o Carter Center, declarou de forma clara que Maduro não venceu a eleição e que o processo foi alvo de irregularidades. O anúncio por parte dos observadores apenas ocorreu depois que os membros do Carter Center deixaram a Venezuela, temendo retaliações.
Oposição é contra
Diplomatas europeus admitiram ao UOL que não há garantias de que esse caminho tenha um resultado diferente. Em conversas com membros da oposição venezuelana, os interlocutores europeus ouviram relatos de que não aceitariam um novo processo.
No Itamaraty, nada mudou em relação à estratégia. O governo brasileiro continua trabalhando na construção de um diálogo entre a oposição e o governo de Maduro, enquanto exige da parte do venezuelano transparência na apresentação dos resultados.
Segundo fontes no Itamaraty, o posicionamento do governo é ditado pelo próprio presidente, neste caso. Portanto, a ordem é a de seguir na mesma estratégia, sem fazer qualquer proposta de nova eleição.
Na semana passada, o chefe da diplomacia brasileiro, Mauro Vieira, chegou a conversar com ministros europeus sobre o tema. Os europeus também têm conversado com o governo colombiano.
A aposta de americanos e europeus era de que uma comissão formada por Brasil, Colômbia e México pudessem abrir canais de diálogo, tanto com a oposição quanto com Maduro.
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receberO próprio Lula tem evitado atender a um telefonema do presidente venezuelano. Sua ideia era de que esse contato deveria ocorrer entre Maduro e os três países latino-americanos. Lula quer, com isso, dar um recado claro ao venezuelano de que não haverá negociação sobre a questão da transparência.
Mas a nova preocupação dos mediadores brasileiros é sobre uma possível ruptura dessa aliança latino-americana. Nesta semana, a presidente eleita do México, Claudia Scheinbaum, sinalizou que lavaria as mãos diante da crise venezuelana e que, se houvesse alguma disputa, que órgãos internacionais fossem acionados. Ela assume o poder no dia 1 de outubro no México.
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