Jamil Chade

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Reportagem

Divididos e angustiados, americanos vão às urnas em busca de respostas

Cythia Moore tinha pressa. Eram 7h30h. Ela precisava levar crianças a uma creche e trabalhar. Mas, antes, queria votar. "Não aguento mais esse clima de ódio. Estou angustiada. Precisamos virar a página", afirmou a advogada de 31 anos ao entrar num dos locais de votação em Manhattan.

O UOL visitou seis sessões diferentes de voto em Nova York, ao longo do dia. Tanto no centro financeiro da cidade, nas proximidades da Trump Tower, como na periferia onde a disputa é por chegar até o final do mês para cada um dos eleitores.

Cythia não deixava dúvidas. Votaria por Kamala Harris. Mas admitia o medo de que o resultado da eleição seja uma eclosão da violência. Ela não está sozinha. Pesquisas revelam que, de cada dez eleitores, quatro temem confrontos quando o anúncio do resultado for dado.

Grupos de extrema direita têm se organizado nas redes sociais e canais de comunicação, de uma maneira que vem deixando autoridades e observadores preocupados. Num desses canais, os grupos perguntaram a seus seguidores quais seriam as previsões mais realistas para o final da eleição. Uma das opções colocadas foi: "vitória de Harris e gatilho para o começo de guerra civil".

No centro financeiro da cidade, nas proximidades de Wall Street, as filas que se formaram durante a manhã era compostas por pessoas engravatadas. Cada um com seu celular numa mão e um café na outra. James Martinez, de 59 anos, afirmou que não costuma votar. Mas decidiu ir às urnas "diante do medo" da eventual volta de Donald Trump. "Não sou democrata. Mas não podemos correr o risco", afirmou.

Em Nova York, em 2020, Trump perdeu por uma diferença de 2 milhões de votos. Em sua própria cidade que o desprezou por anos, o republicano tentou mostrar força ao organizar um comício do Madison Square Garden, há duas semanas. A esperança de sua campanha é de conseguir que essa diferença caia.

Parte do ódio de Trump contra as elites se explica na cidade de Nova York. Quando ele desembarcou em Manhattan com o dinheiro de seu pai, foi esnobado pelos donos do capital, mesmo depois de erguer a Trump Tower. Agora, quer se vingar. Mas a última vez que um republicano venceu em Nova York foi há quarenta anos.

De fato, a sombra de seu prédio pode ser vista em um dos locais de votação visitados pelo UOL. Mas nem a presença visual do prédio parece intimidar os democratas de Nova York. "Aqui ele não ganha", garantiu Bruno Rivera, dono de um restaurante de comida mexicana. "Ele colocou imigrantes no centro do furacão. Eu posso votar hoje, mas já passei por uma situação muito ruim neste país. Nos colocar como a causa dos problemas econômicos dos EUA é desleal", disse.

"Eu quero ajudar a colocar fim à sua carreira política. Ele prometeu que essa seria sua última campanha. Quero garantir que isso seja concretizado", afirmou, rindo.

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Trump, porém, tem seus eleitores, mesmo em Manhattan. Na região de Upper East Side, o local de votação foi montado no prédio de uma escola pública. Na porta, barraquinhas vendiam pão de queijo feitos por uma família brasileira e doces com a bandeira americana.

Dentro, duas amigas voltavam juntas e esperavam que a eleição terminasse com uma vitória do republicano. "Não voto por Kamala Harris por um só motivo: ela fez um péssimo trabalho no governo. Não posso chancelar sua administração com meu voto", disse Melissa, de 66 anos.

Brian, no Bronx, sabe que é um dos raros eleitores na região a apoiar o republicano. Em 2020, apenas 30% dos votos do local foram para Trump. "Mas vivíamos melhor quando ele era presidente", afirmou, repetindo slogans do ex-presidente.

No mítico teatro Apolo, no Harlem, um grupo de cinco jovens se preparava para montar o palco para um tributo a Quincy Jones, morto nesta semana. "Vamos votar em breve", contou um deles, questionado pelo UOL se já tinham ido às urnas.

Quando perguntados se todos dariam seu voto para Kamala Harris, o grupo apontou o dedo para um deles, explicando que o indicado seria o único a votar por Trump. "Me digam? O que ela fez por vocês enquanto estava no governo?", rebateu o homem.

Em seu bairro, 29% da população vive abaixo da linha da pobreza.

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Uma voluntária num dos centros de eleição do Harlem, também numa escola pública, guiou a reportagem do UOL pelos corredores do colégio até chegar às urnas. Antes de se despedir, fez um apelo: "conte ao mundo que estamos em apuros".

Reportagem

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