Jeferson Tenório

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Opinião

Tarcísio põe em prática clima de vigilância ideológica nas escolas

Na última sexta-feira (28), a gestão do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), publicou no Diário Oficial uma portaria que determina que diretores passem a observar as aulas de professores por pelo menos duas vezes por semana. A portaria determina também que os diretores elaborem um relatório a partir das observações para ser enviando à Secretaria de Educação.

Entretanto, a portaria não esclarece o que será feito com os relatórios. O fato é que o receio da vigilância ideológica e de uma possível penalidade para professores que não forem bem avaliados pode gerar um clima de insegurança aos educadores quanto às suas práticas pedagógicas.

Em nota, a Secretaria de Educação argumentou que a portaria tem o objetivo de "fortalecer o protagonismo e autonomia do educador em sala de aula". No entanto, a nota não explica como essa medida irá contribuir para o fortalecimento do "protagonismo e autonomia" nem o que será feito com o relatório.

O argumento é bastante contraditório porque não me parece que a lógica do "vigiar e punir" acrescentaria em alguma melhora nas práticas pedagógicas. Muito pelo contrário. Tal medida impõe um tipo de ação intimidatória aos professores, que têm, não esqueçamos disso, autonomia para o exercício pleno de sua docência. Não tenho dúvidas de que a determinação para que as aulas sejam observadas por diretores é mais um ataque não só aos professores como a toda a comunidade escolar.

Trabalhei por quase 20 anos em escolas públicas e privadas e já tive minhas aulas observadas pela equipe pedagógica. Eventualmente essas observações são feitas, mas com intuito de conhecer a dinâmica das aulas e as interações entre o professor e sua turma. A observação é uma prática que acontece. Entretanto, esta medida não me parece algo dessa natureza, pois, ao estabelecer a obrigatoriedade da observação, coloca, na verdade, a autonomia dos educadores em risco.

A implantação dessa medida de vigilância ganha um caráter ideológico, já que sabemos que a gestão de Tarcísio se alinha ao bolsonarismo, que, por sua vez, tem ligação direta com a extrema direita. Tudo levar a crer que pode ser tratar de mais um instrumento de perseguição política aos professores.

O governo estadual de São Paulo deveria estar preocupado com a evasão escolar, com a falta de recursos básicos, com a falta de banheiros nas escolas, com a falta de professores, com aumento de salários e condições melhores de trabalho, mas prefere instalar um clima de vigilância ideológica que em nada ajuda para melhorar os índices de aprendizagem. Lamentável.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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