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José Luiz Portella

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Lideranças de Lula e Bolsonaro esmagam terceira via; Simone Tebet enterra

Sergio Moro, Simone Tebet, João Doria e Eduardo Leite são possibilidades para a terceira via nas eleições - Reprodução e divulgação
Sergio Moro, Simone Tebet, João Doria e Eduardo Leite são possibilidades para a terceira via nas eleições Imagem: Reprodução e divulgação

Colunista do UOL

19/04/2022 09h25

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Com elegância, discreta arrogância e sem liderança, Simone Tebet (MDB) enterra a terceira via.

A atuação dela na sabatina da UOL foi tênue, sem conteúdo para o país, esmaecendo a possibilidade de se consolidar.

Tudo vai se constituindo no sentido de robustecer a bipolarização havida, tanto pela força das lideranças de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de Jair Bolsonaro (PL), como pela ausência de força de condução dos candidatos à terceira via.

Tudo se encaixa como a harmonia de um casamento de "um feito para o outro". Enquanto os líderes nas pesquisas reforçam suas bases, a terceira via trabalha para se diluir.

O ambiente favorece a bipolarização. A partir de 2018 tivemos uma nova conformação do eleitorado brasileiro. Em vez de ser representado por uma curva normal de Gauss, com os extremos minoritários e o centro elevado com maior volume, num desenho de um U ao contrário, um perfil de montanha, onde o centro é o ponto mais alto; passamos para um U natural, com extremos maiores e um centro reduzido, que aparece no ponto mais baixo.

Os extremos somados são muito superiores em volume de eleitores do que o centro.

As redes sociais reforçam este movimento. A única coisa que não tem lugar, ou quase não existe nas redes sociais, é a ponderação.

Vale quem radicaliza e agride. Quem "performa". Vide os artistas e youtubers que hoje aparecem no topo da visualização. Viralizar é fenômeno para quem exagera, é radical, causa polêmica. Ousa.

Equilíbrio é desequilíbrio, o rabo abana o cachorro.

Na sociedade, embora um contingente significativo se considere Nem-Lula, Nem-Bolsonaro, o que sugere a busca por ponderação, isso não acontece. Brasileiro é violência, com discurso de paz.

Na verdade, o que esta demanda busca é um líder forte e exemplar na sua conduta, em termos de possuir "vigor no ataque" para derrubar Lula e Bolsonaro.

Primeiro Bolsonaro, no primeiro turno. Depois, Lula, no segundo.

O busílis é que nenhum dos candidatos a terceira via convence como tal.

Ciro, que seria o mais viável, em termos de programa e personalidade, se esvai no egocentrismo, no comportamento chulo, ofensivo e na imagem de "eu sou o bom" e tudo será fácil comigo. Basta me eleger.

Que não colou no passado, e não cola. Ciro desafia Einstein, repete o mesmo erro, imaginando que, desta vez, dará certo. Insano.

Lula e Bolsonaro não ostentam eleitorados por serem só incisivos, mas por terem criado vínculo afetivo com os respectivos eleitores, de modo que qualquer acusação se "transforma" em mentira, maledicência na ótica do simpatizante. Bolsonaristas se consagram pelo negacionismo, e lulistas, pelo autoengano do "homem social" que vai resgatar a pátria do abismo.

Candidatos a terceira via não desenvolvem tal vínculo afetivo. Querem prevalecer, pelo racional, não emocionam.

Lula tem chances de vencer no primeiro turno por agregar aos 33% de aficionados, outros 10% a 12% de eleitores que rejeitam Bolsonaro com avidez.

Concomitantemente, tanto pelos próprios erros verbais, como pela soberba do PT, corre o risco de perder pontos e não atingir 43% a 44%, a resvalar para o segundo turno, e enfrentar a fúria bolsonarista.

É favorito, mas sofrerá bastante. A guerra não será dentro da Convenção de Genebra, nem de limites civilizatórios.

Porém, o ambiente, pelo vigor dos líderes, cada vez mais sufoca a terceira via, que parece um arbusto fino e sem cuidado. Faltam jardineiros tenazes.

Quanto mais vacila a terceira via, mais se inviabiliza.

O depoimento de Tebet na sabatina do UOL foi frustrante para quem espera Godot na esquina da terceira via.

E se ela caminhar sobre nova ponte para o futuro, com as teses liberais de Temer, vai cair no rio.

Votos conservadores, geralmente vinculados a teses liberais, vão ficar com Bolsonaro, mesmo que ele tenha aplicado um trote nos liberais.

Porque ele é perspectiva de poder, que ela não é, e porque parece valente, enquanto Simone, que é valente, desaparece nos 2% de votos que tem. Na tibieza das respostas.

O radicalismo das redes sociais, do maniqueísmo reinante na sociedade, onde se um lado é o bem, o outro é o mal, não permite terceira alternativa.

Ela precisava emergir como o jorro de um gêiser, não como um filete de água que escapa de um encanamento. Não veio, como Godot.

Em ambiente extremista, falta de conteúdo inovador e arrebatador, não tem apelo. Passa despercebido.

A terceira via é um choque de demanda sem oferta.

Lula e Bolsonaro ocupam o espaço vital, e esmagam a terceira via, sem que esta consiga, sequer, dar o ar da graça.

Pela debilidade congênita de seus pretendentes.

A qualidade dos jogadores faz a diferença.