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José Luiz Portella

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A guerra está começando e não estamos percebendo, ou não queremos ver

Os  macacos: não fala, não vê, não ouve - Reprodução
Os macacos: não fala, não vê, não ouve Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

03/06/2022 09h43

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O desatino produzido pelo mundo bolsonarista nos levou a acentuar algo que a sociedade "incluída" brasileira, que ganha de cinco salários mínimos para cima, pratica: a extrema aceitação do inaceitável.

Genivaldo é caso para posicionamento drástico, não só de esgares indignados de momento, as visitas de senadores, e, depois, NADA. Tudo como antes. Centrão adiante.

Quando se tem Arthur Lira, Ciro Nogueira, Alcolumbre, Pacheco no comando, vem tempestade por aí. Líderes são representações.

As mensagens que estão sendo veiculadas, de ambos os lados na internet, nos impulsionam em direção do choque com a rocha, são tratadas "brasileiramente" com jocosidade.

Poucos estão atentos para o que vem, e começa a piorar em junho, mas tem inflexão maior em julho, e atingirá auge em 7 de setembro. Depois será a administração disso.

Bolsonaros sabem que vão perder, precisam do voto da contestação, estão armando o bote.

A esquerda mais militante, cansada de 4 anos de surra política, prepara-se para revidar. Suas mensagens também não são politicamente corretas, nem éticas.

O clima em formação é de tempestade tropical com gelo polar. Vai pegar.

E, a mídia e analistas de mercado, apostando no simulacro dos levantes nativos, calculam que tudo não passará de escaramuças.

Parte do mercado também. Contando com a adesão que fará imediatamente a Lula, logo que este ganhar, esquecendo-se que até agora, quem ganha mais de 10 salários mínimos, supostamente mais politizados, estão fornecendo vitória para um governo bizarro.

Brasil vive num Alzheimer constante, não reconhecemos nós mesmos.

O estádio de espelho de Lacan, aqui, já começa sem reconhecimento de si mesmo.

O certo é que estamos nos preparando para uma guerra política, que deixará vítimas e fará muito mal para a recuperação econômica nos anos seguintes. De 2023 para frente.

Buracos no Orçamento, saques, o vale tudo institucional, o estado de calamidade falso, as artimanhas não liberais de Paulo Guedes, imiscuído na tartufice.

O Brasil atravessa uma das piores quadras da sua existência, e o exercício contínuo do conformismo confortável, sobretudo da classe média, incluindo a esquerda corporativa, nos leva para um buraco negro a sugar todas as nossas energias.

Estamos parados, patinando, na armadilha da atividade, vivendo piores do que os nossos pais.

A guerra não se limitará às redes sociais como muitos imaginam, menoscabando os riscos. Vai aos poucos contaminar tudo, e chegar aonde não deve.

Somos os suspeitos de sempre do filme Casablanca, acusados e presos, por nós mesmos.

Quando que a sociedade brasileira vai acordar para si mesmo, para sua potencialidade.

A extrema pobreza no Brasil é passível de ser removida, a desigualdade de ser arrefecida, os valores caminharem para o que Stefan Zweig enxergou no país do Futuro.

Antes se falava em DOIS BRASIS, cotejando o pobre e o rico, hoje temos um país só, o da barbaridade. Aceita docemente sem constrangimentos.

Políticos, que dizem querer acabar com a pobreza, ou que querem salvar a Nação do "globalismo eurocentrista identitário", vivem num jogo, não conseguem tirar a máscara que pregaram no rosto, não atuam sinceramente, mentem e fingem que é verdade.

Assistimos atônitos a tudo isso, sem ação, com um sorriso sobranceiro nos lábios de mel. Que matam no bar e no lar, por qualquer asneira.

O Brasil está abduzido pela sua própria idiossincrasia de levar tudo no bico, e se achar incólume ao que produz.

Vai ter guerra.

SOMOS CEGOS, QUE ENXERGANDO, NÃO QUEREMOS VER - CONFORME O ENSAIO À CEGUEIRA.