Lula deve enfiar Bíblia no bolso para melhorar sua popularidade
O ponto mais alto da aprovação de Lula no seu terceiro mandato foi em agosto de 2023: 60%, segundo a Quaest. Desde então, está em queda. Chegou agora a 51%, quase empatado com a desaprovação (46%). O governo e seus analistas culpam os evangélicos e os temas a que esse segmento da população presta mais atenção, seus valores sagrados. Estão olhando para o lado errado. Não é a Bíblia.
É o bolso, querido. Agosto de 2023 foi o ponto alto da aprovação de Lula porque foi também o pico da avaliação do governo na economia; março de 2024 é o vale:
Mais gente dizia que a economia melhorou: 34% a 26% agora;
Mais gente dizia que achava que a economia iria melhorar: 59% a 46%;
Menos gente dizia que os preços dos alimentos haviam subido: 37% a 73%;
Menos gente dizia que os preços dos combustíveis tinham aumentado: 31% a 51%.
A economia atinge a todos, sem exceção. Temas "sagrados", só parte do eleitorado. E mesmo esses eleitores que se preocupam acima da média com questões como direito ao aborto são afetados pelo desempenho da economia:
Quando o governo ou Lula fazem ou dizem algo que os ofende moral ou religiosamente, isso tem muito mais chance de aumentar a avaliação negativa do presidente se a percepção sobre a economia estiver em baixa.
Se a economia estiver em alta, a sensibilidade desse eleitorado diminui.
É o bolso, antes da Bíblia, que cria as condições para essas oscilações de humor do eleitorado.
A queda de popularidade de Lula estava dada antes da "crise" com Israel. Quem previa isso eram as pesquisas de confiança do consumidor. Praticamente todas elas, em várias cidades e estados, vêm apontando piora dessa confiança nos dois últimos meses.
Há uma fortíssima correlação entre confiança do consumidor e popularidade presidencial no Brasil desde sempre: as duas sobem e caem juntas.
Lula pode isentar de impostos todos os templos, monastérios e associações evangélicas que isso não vai melhorar sua popularidade. O que vai fazer o presidente eventualmente reconquistar a simpatia perdida dos eleitores, sejam eles evangélicos ou não, é o desempenho da economia: os preços dos alimentos, a expectativa de fazer compras de maior valor e, principalmente, a percepção de melhora da situação financeira individual.
Historicamente, todo governante costuma começar seu mandato com popularidade alta, sofre uma queda ao longo dos primeiros anos de governo e recupera parte da aprovação perdida na reta final, ao longo da campanha da reeleição. Lula está seguindo o modelo até agora.
Se vai recuperar-se na hora H, vai depender de o plano de Fernando Haddad, funcionar. Apesar da curva descendente da confiança do consumidor no curto prazo, as reformas aprovadas pelo ministro da Fazenda criam condições para uma recuperação mais à frente. A questão será, como sempre, de timing: casar o calendário econômico com o eleitoral.
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