Pix eleitoral no 2º turno é mito; eleitor não tem dono
É tentador achar que o eleitor tem dono, mas a grande maioria não tem. Não serão Lula nem Bolsonaro que vão decidir o segundo turno da eleição em São Paulo. Tampouco serão os candidatos derrotados no primeiro turno, como Pablo Marçal e Tabata Amaral. É tentador pensar o contrário porque é mais simples e rápido só levar em conta os padrinhos famosos. É simples, rápido e errado.
Eleição não é Pix, para o padrinho transferir voto sem esforço.
Os influenciadores são apenas parte - e, muitas vezes, uma parte pequena ou mesmo insignificante - da equação do voto. Essa equação não é a mesma para todo mundo. Ela varia. De bairro para bairro, de família para família, de eleitor para eleitor. Para complicar, varia também ao longo do tempo: o que parece vital para você hoje pode não ser daqui 10 anos ou nem mesmo amanhã.
Para um grupo de eleitores, o partido do candidato é muito relevante para orientar voto nele ou rejeitá-lo. Para outro grupo, a religião é mais importante. Para um terceiro grupo, nem partido nem religião contam tanto quanto se tem vaga na creche, fila no hospital ou aperto no ônibus. Mas para quase ninguém é só o PT, só o evangelho ou só o bolso que define o voto.
Para todo mundo, não importa de qual grupo seja, é o balanço entre partido, religião, dia a dia - entre outras variáveis -, que determina a escolha do candidato. É o resultado de uma equação - ponderada ou intuitiva, tanto faz: a equação do voto.
É sempre a mesma equação? Não, ela muda ao longo do tempo. Muda até de turno para turno. E muda de acordo com a pressão social.
Alguns fatores, como a rejeição a um candidato, ganham mais peso do que outros quando só há duas opções no cardápio: não gosto de fulano, mas detesto sicrano; logo, vou votar em fulano para barrar sicrano (ou vou anular, ou vou me abster de votar).
A prioridade de votar em uma mulher que a eleitora ou o eleitor demonstraram em 6 de outubro não existe mais no dia 7 porque nenhuma candidata passou ao segundo turno em São Paulo.
Isso quer dizer que quem votou em Tabata Amaral vai votar em Guilherme Boulos porque Tabata declarou apoio a Boulos?
O voto não é da Tabata, é da eleitora e do eleitor. Depende de quanto eles aprovam o PSOL, rejeitam Lula, abominam Bolsonaro ou perdem tempo todo dia indo e voltando do trabalho para casa. É uma equação em que o peso de cada fator varia para cada eleitor.
Para alguns, pesa mais o que ele ganha ou perde com isso; para uns poucos, o que diz o seu ídolo político; e, para muitos, o que dizem os seus pares. Mas a pressão social também varia.
Em São Paulo, o petismo e o antipetismo foram a principal variável para determinar o vencedor nas eleições de prefeito na maioria dos distritos da cidade entre 1992 e 2012. Apenas com base no histórico de cada local era possível prever com precisão qual seria o candidato a prefeito mais votado naquele distrito. Em 2016, redes sociais e anti-política explodiram a geografia.
Candidato a reeleição pelo PT, o prefeito Fernando Haddad perdeu em todas as zonas eleitorais da cidade em 2016. Perdeu em 56 zonas para João Doria (PSDB), e em duas para Marta Suplicy (então no MDB). Nos pleitos seguintes, Boulos, representando a esquerda, retomaria a ponta em alguns bairros da extrema periferia paulistana, tanto em 2020 quanto em 2026.
Este ano, o discurso da prosperidade egoísta de Pablo Marçal deu a eles vitória em redutos tradicionais da direita no norte da cidade, mas também a na zona leste próxima (e próspera). A zona sul ficou dividida, majoritariamente para Ricardo Nunes, mas uma parte ainda votou mais em Boulos, que ganhou no centro e na extrema zona leste. A geografia voltou a funcionar, com áreas de votação razoavelmente homogêneas e contínuas para os três.
E como o eleitor que não votou em Nunes nem em Marçal vai se comportar no segundo turno? Votando em quem ele rejeita menos. Nisso, segundo o Datafolha, Nunes larga em vantagem, com uma rejeição significativamente mais baixa que a do adversário.
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