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Josias de Souza

País convive com fila de depoentes e pilha de corpos

Colunista do UOL

11/05/2020 20h21

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O noticiário desta semana constrangerá os brasileiros com dois fatos que não deveriam acontecer simultaneamente. Dividem as manchetes a fila de depoentes ilustres do inquérito sobre a interferência de Jair Bolsonaro na Polícia Federal e a pilha de corpos do coronavírus.

No futuro, quando a posteridade puder falar sobre esse momento sem constrangimentos, os historiadores buscarão paralelos na dramaturgia grega. Os observadores do futuro ficarão fascinados com o relato de fatos extraordinários que aconteceram com pessoas ordinárias —em todos os sentidos.

Na descrição historiográfica, a exatidão sobre a era Bolsonaro estará no exagero. A verdade histórica estará no absurdo de um presidente que, tendo crises monumentais para administrar, se dedicava a criar crises novas, como a encrenca que empurrou para fora do governo Sergio Moro, um ministro popular, e pendurou de ponta-cabeça nas manchetes a Polícia Federal, uma instituição respeitada.

O Brasil se encaminha para completar dois meses de convívio com a pandemia do coronavírus, um flagelo sanitário de proporções bíblicas. Já se vislumbra na virada da esquina a catástrofe econômica que atormentará os sobreviventes. E o presidente se dedica a atrapalhar o combate ao vírus e a alardear uma ruína econômica da qual ninguém duvida.

Além de não oferecer soluções para nenhum dos dois problemas, Bolsonaro cria problemas paralelos que drenam energias que deveriam estar concentradas no salvamento de vidas e no planejamento do drama econômico.

O Planalto avalia que o inquérito sobre a PF dará em nada. Nada, nesse caso, é uma palavra que ultrapassa tudo.

O Brasil não merecia ver a contagem dos seus mortos misturada com a mediocridade de um suposto mito transformando o exercício da Presidência da República num delírio.