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Josias de Souza

Vale corona virou Bolsa Popularidade do capitão

ADRIANO MACHADO
Imagem: ADRIANO MACHADO

Colunista do UOL

14/08/2020 04h24

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O auxílio mensal de R$ 600 que o governo vem pagando desde abril não socorreu apenas os brasileiros pobres abalroados pela pandemia. O vale corona exerceu sobre a popularidade de Jair Bolsonaro um efeito anabolizante. Tornou-se uma espécie de Bolsa Popularidade.

O índice de aprovação do presidente subiu de 32% para 37% no intervalo de dois meses, informa o Datafolha. Um salto de cinco pontos percentuais, dos quais três vieram de desempregados e trabalhadores informais, clientes do socorro do Tesouro Nacional.

A pesquisa ajuda a explicar por que Bolsonaro encosta sua Presidência numa agenda populista, distanciando-se do liberalismo de Paulo Guedes. A última parcela do auxílio emergencial será paga em setembro. E o presidente quer colocar algo no lugar. Sem dinheiro, o grande desafio é evitar que o tônico vire um veneno.

"A ideia de furar o teto existe, o pessoal debate. Qual o problema?", indagou Bolsonaro numa live transmitida nas redes sociais na noite de quinta-feira, apenas 24 horas depois de ter assegurado em entrevista que respeitaria os limites do teto de gastos públicos.

Olhado de esguelha pela oligarquia empresarial e pela turma do mercado financeiro, Bolsonaro deu de ombros: "Esse mercado tem que dar um tempinho também, né? Um pouquinho de patriotismo não faz mal a eles, né?"

No momento, Bolsonaro cultiva duas obsessões: criar o Renda Brasil, irmão mais gordo do Bolsa Família, e colocar em pé o plano de obras Pró-Brasil, primo pobre do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC. Ironicamente, a agenda populista do capitão tem um aroma petista.

A desaprovação de Bolsonaro despencou de 44% para 34%. O melhor desempenho relativo foi observado no Nordeste, uma cidadela do PT. Ali, a rejeição a Bolsonaro despencou de 52% para 35%. A aprovação subiu de 27% para 33%. Continua sendo a mais baixa entre as regiões do país. Mas deu um salto de seis pontos percentuais.

Afora o vale corona, que estimula o brasileiro pobre a avaliar Bolsonaro com o bolso, o que há de diferente no presidente é a língua. Ela vem sendo mantida na coleira desde 18 de junho, quando foi preso o amigo Fabrício Queiroz, operador do clã Bolsonaro. O timbre moderado rende dividendos políticos ao capitão.