Josias de Souza

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Opinião

Na corrupção, Brasil vai de país do jeitinho para nação sem jeito

Ao virar a página da corrupção para trás nos últimos anos, o Brasil desenhou um retrato horripilante de si mesmo. Num movimento tão previsível quanto deplorável, piorou pelo segundo ano consecutivo a percepção de corrupção no país. Disso resultou um recuo de dez posições no ranking global elaborado pela Transparência Internacional.

Numa lista de 180 nações, na qual a Dinamarca é líder de honestidade, o Brasil ocupa uma longínqua 104ª posição. Está na vizinhança de Ucrânia, Argélia e Sérvia. Abaixo de Etiópia, Bielorrússia e Cazaquistão. A derrocada é obra coletiva. A restauração da imoralidade conta com a colaboração decisiva dos poderes Executivo Legislativo e Judiciário.

No topo de uma organização familiar com fins lucrativos, Bolsonaro cooptou Sergio Moro, destruiu os órgãos de controle, comprou com verbas secretas o Legislativo, anestesiou a Procuradoria e abastardou as indicações para o Supremo. Sob Lula, "o Brasil voltou". Mas, em algumas áreas, recuou demais.

Lula manteve o centrão dentro dos cofres do Tesouro, segurou na Esplanada ministros sob suspeição, entregou a Caixa de "porteira fechada" a Arthur Lira, ignorou a lista tríplice da PGR, indicou o advogado de estimação e o ministro vingador para o Supremo. Escaldado com o mensalão, o petrolão e o impeachment de Dilma, Lula 3 tornou-se um político ainda mais tradicional. Grosso modo falando.

Noutros tempos, havia corrupção sem corruptor. Com a lei da colaboração premiada, emergiram os corruptores confessos. Impulsionada pelas perversões da Lava Jato, a onda de anulação de processos fez surgir uma legião de inocentes que não foram formalmente inocentados. As liminares que suspenderam acordos de leniência habilitam empresas corruptas a reaverem multas que mal começaram a ser pagas ao Estado.

Num cenário assim, em que todos os gatunos são pardos, sobrou apenas a corrupção. E o Brasil, que sempre foi visto como país do jeitinho, ganhou uma aparência de nação sem jeito.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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