Josias de Souza

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Opinião

Balé de elefantes entre Musk e o STF encobre o mais importante

Com um lote de postagens no seu X, antigo Twitter, Elon Musk deu ao absurdo uma doce e admirável naturalidade. Dispondo de dinheiro para acionar bons advogados, capazes de questionar decisões do Supremo Tribunal Federal por meio de recursos judicialmente admissíveis, o dono de uma das mais controversas plataformas digitais da atualidade preferiu desperdiçar o final de semana com uma espetacularização das suas contrariedades.

Rápido na caneta, Alexandre de Moraes empurrou Elon Musk para dentro do inquérito sobre milícias digitais sem a provação do Ministério Público. Em plena noite de domingo, determinou a abertura de investigação. E fixou multa diária de R$ 100 mil por perfil, caso o dono do X cumpra a ameaça de levar ao ar conteúdo tóxico banido da rede por ordem judicial.

Nesta segunda-feira, Luís Roberto Barroso, o presidente do Supremo, ecoou Moraes: "Decisões judiciais podem ser objeto de recursos, mas jamais de descumprimento deliberado", escreveu em nota oficial. Barroso realçou que o "inconformismo contra a prevalência da democracia" continua sendo manifestado na "instrumentalização criminosa das redes sociais".

A Suprema Corte brasileira e o bilionário sul-africano passaram a executar um balé de elefantes à margem de um dos temas mais importantes da vida contemporânea: a regulamentação das atividades de conglomerados que controlam redes de comunicação sem produzir conteúdo. Deveriam potencializar a democracia, escoando um debate racional sobre temas de interesse coletivo. Em vez disso, monetizam a mentira e o ódio, promovendo uma inusitada tribalização social.

Empobrecendo o diálogo, grupos com visões pré-concebidas enriquecem as plataformas falando para si mesmos e para os algoritmos. Em plena era da inteligência artificial, computadores e celulares tornaram-se difusores de uma ignorância natural que industrializa a raiva, a desinformação e a criminalidade.

Incapaz de produzir consensos, o Congresso mantém no gavetão dos assuntos pendentes o Projeto de Lei das Fake News. E o Supremo retarda o julgamento de quatro ações que poderiam impor limites éticos e legais às big techs.

Rendida ao absurdo e desafiada pelas bravatas de resultados de Elon Musk, a República demora a perceber a falta que faz a racionalidade.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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