Josias de Souza

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Moro forneceu material para que o Supremo o convertesse em réu

Sergio Moro mal teve tempo para comemorar a decisão do Tribunal Superior Eleitoral que rejeitou, há duas semanas, os recursos que pediam a cassação do seu mandato de senador e já está novamente às voltas com a Justiça. Em decisão crivada de ironia, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal decidiu por unanimidade converter o ex-juiz da Lava Jato em réu. Moro é acusado de caluniar o decano da Corte, Gilmar Mendes, crítico mordaz da falecida força-tarefa de Curitiba.

A primeira ironia decorre do fato de que Moro forneceu o material que levou a turma do Supremo a acomodá-lo no banco dos réus. Fez isso ao participar de uma brincadeira de encarceramento de festa junina. A cena foi registrada em vídeo. Na peça, ouve-se uma voz feminina ao fundo: "Está subornando o velho?". E Moro: "Não, isso é fiança. Instituto para comprar um habeas corpus do Gilmar Mendes."

A denúncia contra Moro foi apresentada no ano passado Lindôra Araújo, vice do então procurador-geral Augusto Aras, outro adversário contumaz da Lava Jato. Após a decisão do Supremo, Moro reiterou o que dissera da tribuna do Senado. Repetiu que o fato ocorreu em 2022, antes de sua eleição. Segundo ele, o vídeo foi "gravado e editado por terceiros desconhecidos." Alegou que a divulgação nas redes sociais foi feita sem o seu "conhecimento e autorização." Queixou-se de que o Supremo ignorou o pedido da defesa para que "os terceiros fossem identificados e ouvidos".

A segunda ironia foi que Flávio Dino e Cristiano Zanin, respectivamente ex-ministro da Justiça de Lula e ex-advogado do presidente na Lava Jato, engrossaram os cinco votos contrários a Moro no Supremo. Ambos aderiram ao voto da relatora Cármen Lúcia. Completaram a unanimidade na Primeira Turma Luiz Fux e Alexandre de Moraes.

Gilmar Mendes gosta de repetir uma frase segundo a qual "ninguém se livra de pedrada de doido nem de coice de burro". Em 2019, numa sessão plenária do Supremo, Gilmar referiu-e à turma da Lava Jato como "gentalha", "gente desqualificada", "despreparada", "covarde", "gângsteres", "cretinos", "infelizes", e "reles". Disse que integravam "máfias" e organizações criminosas". Acrescentou que "força-tarefa é sinônimo de patifaria".

Num esforço para desanuviar o ambiente, Moro visitou Gilmar antes do julgamento que ameaçava o seu mandato no TSE. Nesse encontro, o magistrado disse que Moro e o então procurador Deltan Dallagnol "roubavam galinha juntos" na Lava Jato. A terceira ironia é que Moro migrou da posição de agredido para a de agressor por desferir contra Gilmar uma "pedrada de doido". Ou "coice de burro."

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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