A pretexto de fustigar Campos Neto, governo expõe Galípolo
A sexta-feira termina com o dólar virando a esquina dos R$ 6. Uma maldição que o governo sonhou evitar com o anúncio da lipoaspiração de R$ 71,9 bilhões nas despesas públicas em dois anos.
O chefe da Casa Civil, Rui Costa, atribuiu os maus bofes do mercado à ação "deliberada" de Roberto Campos Neto, que "vive falando mal do Brasil". Disse que o governo está em "contagem regressiva" para a troca de comando no Banco Central.
O Planalto demora a notar que Campos Neto tornou-se um bode com prazo de validade vencido. A pretexto de fustigar o quase-ex-presidentre do BC, Rui Costa expôs Gabriel Galípolo, insinuando uma subserviência que não orna com a função.
Na prática, Campos Neto realiza, no ocaso de sua administração, uma gestão compartilhada com Galípulo, que assume o BC em janeiro. O próprio escolhido de Lula cuidou de expor o alinhamento com o bode num almoço com banqueiros.
Menos de 24 horas depois de Rui Costa insinuar que Campos Neto poderia ter agido para anestesiar o dólar, Galípulo declarou que o BC só intervém no mercado de câmbio "quando percebe que existe disfuncionalidade".
"Câmbio flutuante é importante para absorver choques", disse Galípolo, antes de confidenciar que, a caminho do almoço, "vinha no carro falando com o Roberto [Campos Neto] sobre o tema."
Discursando no mesmo repasto com banqueiros, organizado pela Febraban, Fernando Haddad soou na contramão da irascibilidade de Rui Costa. Informou que, se for necessário, a equipe econômica retornará à calculadora em três meses.
"Se tiver algum problema, vamos voltar para a planilha, para o Congresso, para o presidente Lula", disse Haddad. "Não vamos conseguir fazer tudo que precisa ser feito numa bala de prata. Esse conjunto de medidas não é o 'gran finale' de tudo que precisa fazer."
Há dois meses, ainda sentindo na canela as pancadas que recebeu de Lula, Campos Neto disse que Galípolo "vai passar por pressão, como eu passei". Rui Costa prestará melhores serviços ao governo quando se der conta de que as frases que saem do Planalto, quando mal calibradas, fazem a festa de quem fatura com a alta do dólar. O câmbio alto leva junto a inflação e os juros.
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