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Josmar Jozino

Polícia investiga ligação do PCC com invasão a condomínio em Higienópolis

Porteiro em guarita blindada de condomínio na rua Maranhão, no bairro de Higienópolis, em São Paulo - Rodrigo Capote-17.jun.2010/Folhapress
Porteiro em guarita blindada de condomínio na rua Maranhão, no bairro de Higienópolis, em São Paulo Imagem: Rodrigo Capote-17.jun.2010/Folhapress

Colunista do UOL

03/08/2020 11h50

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Os presos Lucas Ferreira do Nascimento, 29, e Alex Sandro da Silva Barbosa, 40, apontados como integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital), são acusados de planejar de dentro da prisão a invasão a um condomínio em Higienópolis, bairro nobre de São Paulo.

Ambos foram condenados por uma série de assaltos. Pertenciam a uma quadrilha especializada em roubar edifícios de luxo em Higienópolis e em outros bairros abastados da capital paulista, como Pinheiros, Itaim Bibi e Vila Madalena.

Mesmo presos, eles ainda contam com parceiros em liberdade. O arrastão planejado para Higienópolis não deu certo e os comparsas da dupla fugiram.

Márcia Aparecida do Nascimento, 57, tia do preso Lucas e cuidadora de uma idosa de 82, moradora do prédio alvo do bando, foi presa e condenada a 10 anos na sexta-feira (31) por ter facilitado a entrada da quadrilha no edifício.

Ao menos 10 assaltantes invadiram o condomínio na rua Maranhão, a mesma onde o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem um apartamento. O bando usou três veículos e só conseguiu entrar na garagem graças ao controle remoto do portão, furtado por Márcia da bolsa da idosa, segundo a investigação.

Câmeras de segurança filmaram a cuidadora se encontrando com um homem nas imediações do edifício às 14h07 do dia 15 de setembro do ano passado. Era um domingo. Márcia só trabalhava nos finais de semana. Ela entregou o controle ao rapaz e retornou ao condomínio. Três horas antes, ela tinha ido de táxi com a patroa até a Capela Nossa Senhora do Sion, tradicional igreja católica localizada na avenida Higienópolis. Ambas assistiram à missa dominical e voltaram juntas ao edifício.

Família foi feita refém

Eram 16h30 quando ladrões chegaram ao condomínio em três veículos. O bando armado rendeu um médico de 53 anos, morador no apartamento 11, a mulher dele, uma arquiteta de 50 anos, o filho de 22 e a filha de 20.

Moradores perceberam a movimentação estranha e um deles acionou o alarme. Os criminosos fugiram levando as chaves de três veículos da família do médico.

Márcia e os ladrões não sabiam que os controles remotos de acesso à garagem são codificados. Toda vez que o aparelho é usado o código fica gravado no sistema interno com o horário da utilização e o número do apartamento do proprietário.

As gravações mostraram que o controle era do apartamento 51, da idosa de 82 anos. O síndico entrou em contato com ela. A proprietária sempre deixava o equipamento em uma bolsinha. A moradora foi verificar e deu conta do sumiço do aparelho.

Cuidadora afirma ter sido ameaçada pelo PCC

A patroa telefonou à cuidadora, que disse que não tinha visto o controle. A idosa a demitiu no mesmo dia. Márcia foi intimada a depor no Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) e confirmou esta mesma versão.

Investigadores da 4ª Delegacia de Crimes contra o Patrimônio do Deic foram ao prédio para checar as imagens do circuito de segurança do condomínio. Elas mostravam o encontro de Márcia com um homem nas imediações do prédio no mesmo dia do crime.

A cuidadora teve a prisão temporária decretada. Ao ser interrogada novamente, confessou ter dado o controle a um dos ladrões. Porém, ela disse que fez isso porque o sobrinho Lucas e outro preso apelidado de Moringa, ambos do PCC, segundo ela, lhe telefonaram da prisão e a ameaçaram, caso não colaborasse com o roubo.

O UOL apurou que Moringa é o apelido de Alex Sandro Barbosa da Silva.

Em 8 de novembro de 2019, quando foi presa, Márcia estava escondida na casa da irmã e ainda tentou fugir. Nesse mesmo dia ela alegou ter perdido o telefone celular.

Minicelulares foram encontrados em cela de penitenciária

Na 4ª Delegacia do Deic, a cuidadora afirmou que o sobrinho estava preso em Mato Grosso. Os policiais pesquisaram a ficha criminal de Lucas e apuraram que ele estava recolhido na Penitenciária 3 de Lavínia, dominada pelo PCC.

Paulo Roberto de Lima, advogado de Márcia, afirmou que sua cliente é inocente e que a pena de 10 anos é muito alta. "Ela foi ameaçada por integrantes do PCC e ficou com muito medo. Vou recorrer da decisão judicial", acrescentou o defensor.

Ao defender a condenação de Márcia, o Ministério Público Estadual observou, no último dia 23, a necessidade de instauração de inquérito policial para identificar os ladrões que invadiram o condomínio da rua Maranhão e das oitivas de Lucas e Moringa, para saber se eles ameaçaram a cuidadora. O UOL não conseguiu contato com os advogados de ambos.

A SAP (Secretaria Estadual da Administração Penitenciária) informou em nota que no mês seguinte ao fato relatado pela reportagem foi feita revista na cela de Lucas, na Penitenciária 3 de Lavínia, e os agentes apreenderam dois minicelulares e dois chips de celular.

Segundo a secretaria, outro preso da mesma cela assumiu a posse dos equipamentos e foi recolhido ao pavilhão disciplinar. A SAP informou que os aparelhos foram encaminhados à época à delegacia local e que foi aberta apuração interna para verificar como os telefones entraram na unidade.

Histórico de arrastões

Os dois assaltantes e outros integrantes da quadrilha foram condenados a 18 anos por um arrastão em 8 de janeiro de 2012 em um edifício na rua General Jardim, em Higienópolis.

O bando invadiu três apartamentos e roubou US$ 10 mil, R$ 50 mil em joias, R$ 38 mil em roupas e eletroeletrônicos, três barras de ouro, cujo valor total não foi mencionado, além de dois veículos de luxo.

Dois meses depois, em 7 de março de 2012, ambos entraram em um edifício na rua Rodésia, Vila Madalena, e fizeram com a quadrilha um arrastão em sete apartamentos. Levaram joias, dinheiro e três veículos importados. Desta vez foram presos e condenados a 15 anos e seis meses de reclusão.

Alex Sandro também foi condenado a 14 anos por um arrastão milionário em um condomínio de luxo na rua Sergipe, em Higienópolis, em 14 de fevereiro de 2012. Ele e outros comparsas invadiram cinco apartamentos e levaram joias avaliadas em R$ 200 mil, roupas de grife e eletroeletrônicos. Roubaram também uma BMW e um Land Rover das vítimas.

Na semana seguinte, Alex Sandro comandou a invasão em um edifício luxuoso na rua Jerônimo da Veiga, Itaim Bibi. A quadrilha recolheu R$ 200 mil do cofre e roubou um Hyundai Azera avaliado em R$ 140 mil. Por esse crime, Alex Sandro foi condenado a 12 anos e 10 meses.
Em 30 de dezembro de 2011, a quadrilha havia entrado em um condomínio na rua Rio de Janeiro, em Higienópolis. Também foram roubados joias e dinheiro. A Justiça condenou Alex Sandro a nove anos.