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Josmar Jozino

Guerrilha que sequestrou ex-vice-presidente paraguaio faz segurança do PCC

13.set.2020: carreata pede "Paraguai sem EPP" após o sequestro do ex-vice-presidente Oscar Denis - NORBERTO DUARTE / AFP
13.set.2020: carreata pede "Paraguai sem EPP" após o sequestro do ex-vice-presidente Oscar Denis Imagem: NORBERTO DUARTE / AFP

Colunista do UOL

17/09/2020 04h02

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O PCC (Primeiro Comando da Capital) se aliou ao EPP (Exército do Povo Paraguaio), um grupo armado de guerrilheiros responsável por ao menos 30 sequestros nos últimos anos no país vizinho. Segundo as investigações, a facção brasileira paga o grupo em troca de proteção nos cultivos de maconha no norte paraguaio, além de segurança nas rotas de entrada de drogas e armas no Brasil.

A notícia foi divulgada ontem no Jornal da Band, baseada em informações fornecidas pela Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) do Paraguai.

"A união entre os dois grupos se fortaleceu em 2016 nas prisões de Ponta Porã (MS), na fronteira dos dois países, e de Assunção" afirmou ao UOL o repórter Rodrigo Hidalgo, da Band, com base nas fontes da Senad paraguaia.

Segundo autoridades do Paraguai, o EPP foi fundado em 2008 e se inspirou nas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), tendo como principal modo de atuação o sequestro de agentes de segurança, políticos e fazendeiros.

Os indícios da coligação EPP-PCC ganharam força em maio de 2017, após a prisão e apreensão do telefone celular do traficante da facção criminosa paulista, David Timóteo Ferreira, preso em Pedro Juan Caballero.

O criminoso, acusado de recrutar integrantes para o PCC em território paraguaio, foi flagrado com grande quantidade de drogas, munição e quatro veículos. Em um dos diálogos interceptados pela polícia, Ferreira afirma que os guerrilheiros são amigáveis e não têm confronto com o grupo paulista.

O novo organograma do PCC divulgado pelo Ministério Público de São Paulo na última segunda-feira (14/9) comprova a influência de integrantes da cúpula do PCC em atividades criminosas no Paraguai.

Dos 21 nomes do novo organograma, ao menos três são conhecidos pelas autoridades vizinhas. Eduardo Aparecido de Almeida, o Pisca, e Marcelo Moreira Prado, o Exu, chefes do tráfico de drogas do PCC, foram presos em uma mansão em Assunção em 18 de julho de 2018.

Levi Adriani Felício, 54, responsável pela lavagem de dinheiro e pela guarda de armas para a facção paulista no Paraguai foi preso em outubro do ano passado, também em Assunção.

Sequestro de ex-vice-presidente mobiliza o Paraguai

A última vítima do EPP ainda mantida em cativeiro é o ex-vice-presidente paraguaio, Oscar Denis Sánches, 74 anos, que ocupou o cargo entre 2012 e 2013. Ele foi levado pelo grupo no último dia 9 junto com o empregado Adelio Mendoza, de 21 anos.

A polícia paraguaia informou que os sequestradores exigiram como resgate US$ 2 milhões (R$ 10,5 milhões) em cestas básicas a serem entregues em 40 comunidades pobres no norte do país.

O sequestro aconteceu na fazenda Tranquerita, de propriedade de Sánches, situada entre os departamentos de Concepción e Amambay, a 60 km de Ponta Porã.

Segundo a polícia paraguaia, Mendoza foi libertado na última segunda-feira e foi para a aldeia indígena Pãi Tavyterã. Um vídeo divulgado nas redes sociais mostra o rapaz chorando e bebendo água enquanto era acalmado pelos moradores da região.

Brasileiros já caíram nas mãos do EPP

Os guerrilheiros também exigiram a libertação de dois de seus chefes e fundadores, Alcides Oviedo e Carmen Vilalba, presos e condenados por ações terroristas.

Assim como faziam os integrantes das Farc, o grupo paraguaio também vive em acampamentos, onde mantêm reféns as vítimas sequestradas. As estimativas são de que o EPP tenha em seus quadros de 300 a 500 homens armados.

Dois brasileiros já foram sequestrados pelos criminosos. Em 2014, o fazendeiro Arlan Fick, à época com 17 anos, foi solto na região de Concepción depois que sua família pagou US$ 500 mil (R$ 2,6 milhões) à guerrilha.

Em 2018, o madeireiro Valmir de Campos, 48, também foi levado pelo Exército Popular Paraguaio. O brasileiro acabou assassinado a tiros por seis homens.