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Josmar Jozino

Detento tem regalias na prisão e recebe visita mesmo em tempo de pandemia

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Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

19/09/2020 04h04

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O montador Robert Magnus Gurgel, 38 anos, preso em flagrante em junho deste ano por tentativa de homicídio, desfruta de regalias na prisão e recebe visitas de familiares no sistema prisional paulista mesmo em tempos de pandemia de coronavírus.

As visitas foram suspensas em março deste ano em todo o país por determinação do Ministério da Justiça e Segurança Pública, para combater a proliferação da covid-19 nos presídios. Gurgel é um raro beneficiado.

Segundo agentes penitenciários, Gurgel goza de regalias no CDP (Centro de Detenção Provisória) de Sorocaba (SP) porque é sobrinho de um funcionário que trabalha como enfermeiro na unidade prisional.

A SAP (Secretaria Estadual da Administração Penitenciária) informou ao UOL que instaurou apuração preliminar sobre a denúncia em relação ao preso, e que se elas forem confirmadas, os funcionários envolvidos serão punidos.

Agentes disseram que Gurgel não fica em cela dos pavilhões onde estão os demais internos, mas no CPI (Centro de Progressão Interno), um setor separado da carceragem.

A SAP acrescentou que o preso está em uma área destinada a detentos do regime fechado que atuam na manutenção interna da unidade.

Segundo a SAP, Gurgel deu entrada no CDP em 24 de junho deste ano, possuiu uma vidraçaria, tem experiência na área de conservação predial e por isso foi aproveitado nessa função.

Espelhos de 1 m de altura

No último dia 10, uma quinta-feira, o detento pôde novamente matar a saudade da mulher e da filha de quatro anos. A entrada das visitas na unidade aconteceu às 10h38 e foi registrada no livro de ata de ocorrências do CDP. A coluna teve acesso a cópia do documento.

Gurgel também recebeu da família dois espelhos grandes com cerca de um metro de altura cada. Esse procedimento não é permitido, pois cada preso pode receber um espelho com tamanho de 15 cm no máximo.

Funcionários contaram que a entrega dos espelhos foi filmada pelas câmeras de segurança do Centro de Detenção Provisória e o fato pode ser facilmente comprovado pelas imagens armazenadas no sistema.

O SIFUSPESP (Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo) também recebeu a denúncia de regalias e comunicou a Corregedoria da SAP e a Coordenadoria Central dos Presídios, responsável pelo CDP de Sorocaba.

O presidente do sindicato, Fábio Jabá, confirmou a informação de que a SAP investiga o caso.

"Regalias podem causar o caos", diz sindicato

'Isso é um absurdo. Esse preso recebeu várias visitas da família. E as visitas estão suspensas em todo o estado. Essas regalias podem causar o caos no sistema prisional e abrir precedentes para outros presos", alertou Jabá.

A carceragem do superlotado CDP de Sorocaba, onde Gurgel deveria estar recolhido, tem capacidade para 707 detentos, mas abrigava, até esta sexta-feira (18), 1.315 detentos, ou 85% além da capacidade.

Gurgel é acusado de ter atirado na perna de José Ribamar Alves, 56 anos, após uma discussão por motivo fútil no centro da cidade.

O atirador fugiu do local, mas foi localizado e preso por dois policiais militares em um condomínio. Gurgel alegou que após a discussão, Alves passou a agredi-lo com barra de ferro e por isso atirou na perna dele, agindo em legítima defesa.

O flagrante foi convertido em prisão preventiva pelo juiz André Luís Adoni. O promotor de Justiça Renato Augusto Valadão ofereceu denúncia contra Gurgel e observou que o preso é "violento e desequilibrado".