O dia em que a calcinha preta foi proibida na penitenciária em SP
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Aconteceu em 19 de outubro de 2014. Era domingo, dia de visitas na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP). As mulheres foram comunicadas na saída que o uso da calcinha preta nos presídios estava definitivamente proibido. Tudo por causa de uma tentativa de fuga registrada horas antes naquela unidade.
O preso Márcio Henrique Evaristo, 53, o Nenê Coqueirão, integrante do PCC (Primeiro Comando da Capital), e outro detento quase escaparam usando uniforme simular ao do GIR (Grupo de Intervenção Rápida), a tropa de choque do sistema prisional. Detalhe: o fardamento foi confeccionado com peças íntimas femininas e outras roupas tingidas.
Passados pouco mais de seis anos da ousada ação, as autoridades ainda não sabem explicar como Nenê Coqueirão colecionou calcinhas pretas e teve acesso a tintas de cores escuras para tingir calças, camisetas e tênis, e também como conseguiu costurar as roupas dentro da cela. No estado de São Paulo, o uniforme dos presidiários há décadas é camiseta branca e calça bege.
Procurada pelo UOL, a SAP (Secretaria Estadual da Administração Penitenciária) disse "desconhecer qualquer relação do preso Márcio Henrique Evaristo com tingimento de roupas ou que o sentenciado tenha utilizado peças íntimas para confeccionar trajes similares aos do GIR".
Apontado como integrante do alto escalão do PCC, Nenê Coqueirão sempre foi um dos presos mais vigiados no sistema prisional paulista. E isso porque ele tem histórico de fugas ousadas em sua ficha criminal. Por um triz não acumulou mais uma naquela manhã de domingo.
A tentativa de fuga: armados com espetos
Nenê Coqueirão e o fiel parceiro Marcos Antônio da Silva, 46, o Corintiano, vestidos com o uniforme simular ao do GIR e armados com espetos de ferro, conseguiram sair do pavilhão 1 e renderam dois agentes penitenciários, tomando posteriormente o rádio de um deles.
Os presos e os reféns passaram pelo setor de enfermaria, onde outro agente e uma enfermeira também acabaram dominados. Todos seguiram em direção ao corredor da administração.
Nenê Coqueirão e Corintiano chegaram até o portão da muralha, onde um agente penitenciário cuidava da vigilância. Os prisioneiros ameaçaram matar os reféns, caso não tivessem acesso ao setor.
O guarda mostrou-se irredutível. Os verdadeiros agentes do GIR foram acionados e Nenê Coqueirão e Corintiano foram dominados e algemados.
Os uniformes forjados
Um boletim de ocorrência foi registrado e no histórico do documento constava que o uniforme tinha sido tingido e fora confeccionado pelos próprios detentos. No fardamento havia símbolos do GIR e brasões oficiais.
Parentes de presos contaram ao UOL que após a tentativa de fuga de Nenê Coqueirão — considerada audaciosa pela Justiça —, a SAP proibiu o uso de calcinhas pretas e qualquer peça de cor escura nas prisões paulistas nos dias de visita.
Segundo a secretaria, em nenhuma unidade prisional do estado é permitida a entrada de visitantes com roupas similares a de funcionários. A pasta, no entanto, não mencionou quando a medida entrou em vigor.
A SAP informou que Nenê Coqueirão é condenado a 268 anos e 10 meses de prisão, e cometeu de 13 faltas disciplinares de natureza grave. Ele foi internado três vezes em Regime Disciplinar Diferenciado, castigo no qual o preso fica 22 horas isolado em cela individual e tem duas horas de banho de sol.
No boletim informativo carcerário de Nenê Coqueirão constam duas fugas. Uma delas ocorreu em janeiro de 2001 na Penitenciária de Araraquara (SP).
Comparsas do preso sequestraram sete pessoas da família do diretor-geral do presídio. Em troca da libertação dos reféns. Nenê Coqueirão e outros quatro detentos acabaram soltos. A outra fuga aconteceu em 13 de fevereiro de 1999, na Penitenciária 1 de Guarulhos.
Nenê Coqueirão cumpre pena na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau. Ele está com câncer metastático de pâncreas, em fase terminal. A defesa dele pediu indulto humanitário ou prisão domiciliar humanitária para o cliente. O Ministério Público Estadual se manifestou contra. A Justiça ainda não analisou o caso.
"Ele é um doente em estado terminal. Só queremos que ele fique mais próximo da família. Estamos pedindo isso à Justiça desde novembro do ano passado. É um direito constitucional", argumentou a advogada Ana Paula Minichillo da Silva Araújo.
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