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Josmar Jozino

Fuminho, acusado de traficar para o PCC na África, tem soltura negada

13.abr.2020 - Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, ao ser preso em Moçambique - Arquivo pessoal
13.abr.2020 - Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, ao ser preso em Moçambique Imagem: Arquivo pessoal

Colunista do UOL

08/01/2021 10h36

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A Justiça do Ceará indeferiu o pedido de revogação da prisão preventiva do narcotraficante Gilberto Aparecido dos Santos, 50, o Fuminho, acusado de planejar os assassinatos de Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca.

Ambos eram da alta cúpula do PCC (Primeiro Comando da Capital) e foram mortos a tiros em 15 de fevereiro de 2018 na aldeia indígena de Aquiraz, região metropolitana de Fortaleza.

A defesa de Fuminho alegou no pedido judicial que, antes de ser preso, "ele era um homem trabalhador, possuía atividade lícita e atuava desde junho de 2019 no terceiro setor como voluntário em uma ONG (Organização Não Governamental) na África do Sul".

A ONG mencionada é a Chinmaya Seva Trust. Trata-se de uma entidade sem fins lucrativos que auxilia a população carente de países do continente africano. A instituição de caridade tem sede nas principais cidades do mundo.

Três juízes da 1ª Vara da Comarca de Aquiraz indeferiram o pedido formulado pela defesa de Fuminho, argumentando que o preso "é desprovido do mínimo de idoneidade necessária para a convivência social e que a liberdade dele representa real e constante ameaça à ordem pública".

Fuminho é acusado de tentar expandir atividade do PCC para a África

Para o MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo), Fuminho jamais exerceu atividade lícita, muito menos como voluntário em uma instituição de caridade estrangeira.

Segundo promotores de Justiça do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), órgão do MP-SP, Fuminho ficou durante anos escondido na Bolívia, onde comandava para o PCC o tráfico de toneladas de cocaína, e depois fugiu para a África do Sul.

A polícia moçambicana apurou que o criminoso deu entrada naquele país em março de 2020, usando documentos falsos. Ele também foi acusado de controlar o tráfico de drogas em Moçambique e de abastecer o mercado sul-africano de entorpecentes.

As investigações da Polícia Federal do Brasil apontaram que Fuminho vivia na África do Sul com a mulher Maria Caroline Marques Gonzaga, 26, formada em medicina na Bolívia. Agentes descobriram que ela retornou ao Brasil em 25 de fevereiro de 2020.

Mulher do traficante é filha de outra figura importante do tráfico, Sarará

Quatro dias após a prisão de Fuminho, policiais federais cumpriram mandado de busca e apreensão no apartamento de Maria Caroline, no Tatuapé, zona leste de São Paulo. Foram apreendidos quatro aparelhos de telefone celular; R$ 34.700; US$ 125; 200 euros; 2.450 rands (moeda sul-africana), documento da Universidade de Pretória; cartão com a inscrição "Money Group" e papéis contendo diversas anotações.

Para a Polícia Federal a busca e a apreensão eram necessárias porque Maria Caroline "mantém relacionamento afetivo com Fuminho, e por ser pessoa da confiança dele, poderia estar na posse de informações que contribuam para a elucidação das mortes de Gegê do Mangue e de Paca".

Para os advogados da estudante, se esse entendimento fosse verdadeiro "qualquer esposa, namorada, noiva, irmã ou filha de acusados deveriam sofrer busca e apreensão para se chegar à verdade dos fatos, porque todas essas relações pressupõem confiança entre as partes".

Maria Caroline é filha de Orlando Marques dos Santos, 59, o Sarará, considerado um dos maiores traficantes de drogas do Brasil, e de Antonia Gonzaga, 51. O casal foi processado em 2007 por lavagem de dinheiro. Sarará já cumpriu pena com Marcola.

Fuga com Marcola

Apontado como braço direito de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, considerado o número 1 do PCC, Fuminho escapou da Casa de Detenção, no Carandiru, zona norte de SP, em 12 de janeiro de 1999. Segundo a Polícia Civil de São Paulo, ambos fugiram juntos.

Marcola foi definitivamente preso em julho do mesmo ano, mas Fuminho permaneceu foragido durante 21 anos. O narcotraficante foi recapturado em 13 de abril de 2020 em Maputo (Moçambique). Ele foi deportado para o Brasil e está preso na Penitenciária Federal de Catanduvas (PR).