Topo

Josmar Jozino

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Defesa vai usar filha brasileira para evitar extradição de mafioso italiano

Rocco Morabito, mafioso italiano no Brasil - 04.set.2017 - Divulgação
Rocco Morabito, mafioso italiano no Brasil Imagem: 04.set.2017 - Divulgação

Colunista do UOL

28/05/2021 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Uma filha brasileira de 19 anos pode ser o maior empecilho ao governo do Brasil na extradição para a Itália de Rocco Morabito, 54, segundo o advogado dele, Leonardo de Carvalho e Silva. Preso na última segunda-feira (24) no flat Eco Summer, em João Pessoa (PB), o italiano é acusado de integrar a máfia calabresa 'Ndrangheta.

O advogado afirmou ao UOL que esse é um dos argumentos a ser usado na Justiça em defesa de Morabito. Na avaliação de Silva, o fato de o italiano ter constituído família no Brasil deve impedir a extradição dele para o país de origem.

Silva negou que Morabito seja membro da máfia calabresa e disse que ele foi acusado por suposto tráfico internacional de drogas há 29 anos, acabou condenado à revelia, com base em uma delação premiada, sem nunca ter sido ouvido e pisado em um tribunal e também sem jamais ter tido a oportunidade e o direito de se defender.

O defensor explicou que pela lei brasileira, os supostos crimes aos quais Morabito é acusado já prescreveram e que o Brasil tem de exigir que essa norma seja cumprida e o processo anulado.

Segundo Silva, ao ser preso em João Pessoa, Morabito não respondia a nenhum crime em território brasileiro, não portava arma e muito menos documento falso.

Tráfico de cocaína para Europa

Morabito é acusado na Itália de ter organizado um esquema de tráfico de centenas de quilos de cocaína para a Europa. Ele tem quatro condenações e era considerado um dos criminosos mais procurados do mundo. Segundo a Interpol, as penas somam 103 anos, mas foram unificadas em 30 anos.

Morabito - Divulgação - Divulgação
Rocco Morabito, em foto de sua prisão no Uruguai em 2018
Imagem: Divulgação
No mesmo quarto do flat Eco Summer, o 307, onde estava Morabito, agentes federais prenderam Vincenzo Pasquino, 30 anos, natural de Turim, também acusado de integrar os quadros da Ndrangheta. Ele era um dos 30 criminosos mais procurados pela polícia italiana.

A ministra Carmen Lúcia, do STF (Supremo Tribunal Federal), autorizou na última terça-feira (25), a transferência de Morabito para um presídio federal. Ele vai ficar preso na Penitenciária Federal de Brasília até o julgamento do processo de extradição.

O advogado afirmou que vai recorrer da decisão do STF. Ele alega que outros estrangeiros, inclusive italianos, acusados de envolvimento com grupos mafiosos, nunca ficaram recolhidos em penitenciárias federais.

De acordo com o advogado, a mulher de Morabito, uma angolana naturalizada portuguesa, e a filha brasileira do casal, de Santa Catarina, já se mudaram para Brasília para acompanhar de perto a situação do preso.

Esconderijo de mafiosos italianos

O Brasil também foi escolhido como esconderijo por outros italianos condenados no país de origem. Três constituíram família em território brasileiro. Todos tiveram o nome incluído na Difusão Vermelha da Interpol, a Polícia Internacional. O governo da Itália pediu a extradição deles.

Acusado de integrar a máfia Ndrangheta, Patrick Assisi, 38, anos, foi preso com o pai dele, Nicola Assisi, 63, em julho de 2019 na cobertura de um edifício na Praia Grande, Baixada Santista.

Condenado a 30 anos por tráfico internacional de drogas na Itália, Patrick casou-se com uma brasileira. Ele é pai de dois filhos nascidos no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.

O criminoso é acusado de ligação com o PCC (Primeiro Comando da Capital) e de ter exportado toneladas de cocaína para a Europa via porto de Santos. Patrick está preso na Penitenciária Federal de Brasilia. A extradição dele já foi aprovada pelo STF.

O italiano Alduino Gianotta, 58, acusado na Itália por tráfico de drogas, foi preso na região metropolitana do Recife, conforme divulgou esta coluna em 9 de fevereiro de 2021. Segundo advogados de Gianotta, ele está no Brasil desde 2014 e é casado com brasileira.

Roberto Guerini, 60, acusado de aplicar golpes de 500 milhões de euros na Itália, foi condenado a 12 anos de prisão naquele país. Ele acabou preso em 23 de novembro de 2020 em Pernambuco. Segundo seus defensores, o italiano é dono de fazenda no Brasil desde 2005 e casou-se com brasileira.

Quem também aguarda extradição é o italiano Massino Iacozza, 43, condenado a nove anos na Itália pelos crimes de associação criminosa, tráficos de armas e drogas. Ele foi preso em Araçariguama (SP), em 23 de fevereiro do ano passado.