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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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Justiça mantém sentença a falso membro do PCC que ameaçou matar João Doria

João Doria - Wilson Dias/Agência Brasil
João Doria Imagem: Wilson Dias/Agência Brasil

Colunista do UOL

11/03/2022 15h02Atualizada em 11/03/2022 15h04

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A 4ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo manteve a condenação de 6 anos e 2 meses imposta a Hércules Cordeiro Torres, 23, acusado de se passar por integrante do PCC (Primeiro Comando da Capital) e de tentar extorquir R$ 5 milhões do governador João Doria (PSDB).

A 1ª Vara Criminal de São Paulo havia condenado o réu pelo crime de extorsão mediante sequestro. Segundo a Polícia Civil, em maio de 2020 Torres enviou pelas redes sociais mensagens à família de Doria exigindo R$ 5 milhões para não matá-lo a mando do PCC.

Em votação unânime realizada no último dia 8, os desembargadores Luís Soares de Mello, Camillo Léllis e Roberto Porto — este último relator — decidiram manter a pena imposta ao réu na primeira instância.

Além do governador de São Paulo, Torres também tentou extorquir, em maio de 2020, R$ 5 milhões da família do presidente da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), Benjamin Steinbruch. Este processo continua tramitando na Justiça de São Paulo.

Hércules Cordeiro Torres, acusado de tentar extorquir R$ 5 milhões do governador Doria  - Reprodução - Reprodução
Hércules Cordeiro Torres, acusado de tentar extorquir R$ 5 milhões do governador Doria
Imagem: Reprodução

Uma semana após aplicar esses golpes, o acusado foi preso preventivamente — em 16 de maio de 2020 — pela prática de outro crime semelhante: ameaça de morte e tentativa de extorsão de R$ 3 milhões contra o ex-governador daquele estado, Ricardo Coutinho (PT).

Josebergue João Alves, advogado de Torres, disse à reportagem que o cliente está solto. O defensor acrescentou que vai recorrer com todos os meios legais da decisão da 4ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo e que aguarda as tramitações dos outros dois processos.

Erro primário

As investigações da Polícia Civil de São Paulo apontaram que Torres criou uma conta falsa no Instagram e usou a rede de internet de um vizinho de sua namorada para cometer os crimes. O falsário, no entanto, cometeu erros primários.

Segundo os policiais, o golpista forneceu os números da agência e da conta bancária onde as quantias exigidas deveriam ser transferidas e também deu o número do próprio CPF. Os investigadores não tiveram dificuldade para descobrir o endereço dele em Pernambuco.

Na tentativa de extorsão a João Doria, em 9 de maio de 2020, o golpista fez questão de se apresentar como integrante do PCC. Torres afirmou que a organização criminosa iria matar o governador no dia 16 de maio e enviou mensagem ameaçadora para Bia Doria, primeira-dama de São Paulo, com o seguinte teor:

"Excelentíssima primeira-dama do estado de São Paulo. Sob o valor de R$ 3.000.000,00 (3 milhões de reais), efetuaremos a execução de vosso esposo e até então governador do estado de São Paulo (João Agripino da Costa Doria Junior) no dia 16 de maio do ano vigente. Tendo o conhecimento do valor ofertado para execução, o valor que dá a este serviço o status de CANCELADO permanentemente é de R$ 5.000.000,00 (5 milhões de reais)".

Dois dias depois, ele encaminhou 13 mensagens de áudio para Carolina Doria, filha do governador. A Justiça entendeu que o réu causou constrangimento à vítima, mediante grave ameaça de morte do pai dela, com o objetivo de conseguir a vantagem econômica.

Também no dia 9 de maio de 2020, Torres tentou aplicar o mesmo golpe. Dessa vez, o alvo escolhido foi Carolina Steinbruch, mulher de Benjamim Steinbruch, presidente da CSN. O golpista enviou a seguinte mensagem:

"Olá Carolina! Vou te contar, não foi nada fácil encontrarmos a sua residência, mas enfim: nos foi oferecido R$ 3 milhões pela cabeça do seu esposo (Benjamin) e + 1 pela sua. Estamos a 10 minutos de você e antes de efetuarmos o serviço vou perguntar: quer cobrir a oferta? Por 5 milhões eu retiro meus homens dos arredores e cancelamos a investida".

A família Steinbruch imediatamente acionou os auditores da CSN, que posteriormente detalharam à Polícia Civil os detalhes das ameaças de extorsões feitas por Torres e também os dados da conta bancária fornecidos pelo criminoso.

As disputas por poder e dinheiro dentro da principal organização criminosa do Brasil são narradas na segunda temporada do documentário do "PCC - Primeiro Cartel da Capital", produzido por MOV, a produtora de documentários do UOL, e o núcleo investigativo do UOL.