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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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PM aposentado reconheceu o corpo do irmão megatraficante do PCC morto em SP

Corpo de Django, do PCC, foi achado sob viaduto da zona leste - Reprodução/Google Street View
Corpo de Django, do PCC, foi achado sob viaduto da zona leste Imagem: Reprodução/Google Street View

Colunista do UOL

30/09/2022 04h00

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Durante a infância, nos anos 1970, os irmãos Caetano e Cláudio moraram com os pais em uma casa humilde na rua Sarucatinga, na Vila Siqueira, um bairro pobre da zona leste, na região de São Miguel Paulista. Quando atingiram a maioridade, cada um tomou rumos diferentes.

Caetano ingressou na Polícia Militar em 31 de março de 1989, aos 20 anos. Trabalhou por 30 anos na corporação. Atuou no 19º, 28º, 39º e 48º Batalhões, todos na zona leste, e por último no 44º Batalhão, em Guarulhos, Grande São Paulo. Aposentou-se como sargento. Hoje tem 53 anos.

Cláudio Marcos de Almeida escolheu o mundo do crime e com o tempo tornou-se um dos maiores traficantes de drogas e de armas ligado ao PCC (Primeiro Comando da Capital). Foi preso pela primeira vez em 4 de março de 1991, aos 19 anos, no 45º DP (Vila Brasilândia).

Cumpriu pena na Penitenciária 1 de Bauru. Ganhou a matrícula 70.804 no sistema prisional de São Paulo e também o apelido de Django. Passou por várias prisões, como a Casa de Detenção, no Carandiru, zona norte da capital, e Penitenciária 1 de Avaré, reduto do PCC.

Em 21 de agosto de 2003, Django ganhou a liberdade. Mas em 9 de setembro de 2012 foi flagrado com seis tijolos de maconha. Dessa vez foi levado para a Penitenciária 2 de Presidente Venceslau e ficou recolhido com os principais chefes do PCC.

No ano seguinte, em 2 de dezembro de 2013, saiu livre novamente graças a um habeas corpus. Porém, segundo o Ministério Público Estadual, Django passou a gozar da confiança da liderança do PCC e ficou responsável pela guarda das armas e pelo setor de drogas (progresso) da facção criminosa.

Ao lado dos comparsas Anselmo Bechelli Santa Fausta, 38, o Cara Preta, e Silvio Luiz Ferreira, 44, o Cebola, Django comandou a comercialização de drogas na Favela Caixa D'Água, em Cangaíba, zona leste. Os três eram considerados uns dos maiores traficantes de maconha e cocaína do PCC.

O trio foi acusado de lavar o dinheiro da organização se infiltrando em empresas de transporte público. A Polícia Civil apurou que Django investiu R$ 1,2 milhão em ações na UPBUS e Cebola, R$ 247 mil. A empresa foi adquirida por Cara Preta e a família dele também tinha milhões em ações.

Em dezembro de 2021, Cara Preta foi assassinado a tiros no Tatuapé, zona leste. Era o início de uma das guerras mais sangrentas da história do PCC. Segundo a Polícia Civil, dois empresários do bairro ligados a ele lavaram R$ 2 bilhões da facção em imóveis na região e em criptomoedas.

Cara Preta teria exigido a devolução de US$ 20 milhões e acabou morto. O PCC vingou o assassinato dele. Noé Alves Schaun, 42, contratado para matá-lo, foi sequestrado pelo "tribunal do crime" do grupo criminoso e acabou decapitado e esquartejado.

O "tribunal do crime" também não perdoou Django. Ele foi acusado de desviar dinheiro da facção e de proteger o empresário suspeito de ser o mandante do assassinato de Cara Preta. Por conta disso, o PCC o decretou à morte.

Por ter desfrutado da confiança da cúpula da organização criminosa, Django não foi morto a tiros nem a facadas. Ele morreu enforcado aos 50 anos e o corpo foi encontrado na manhã de 23 de janeiro deste ano sob o viaduto da Vila Matilde, na zona leste.

Django foi morto por um tribunal do crime - Reprodução/TV Band - Reprodução/TV Band
Django foi morto por um tribunal do crime
Imagem: Reprodução/TV Band

Distância do irmão

Aflita com a falta de notícias de Django, a mãe, Sonia, procurou o filho Caetano e comunicou que o irmão dele estava desaparecido havia dois dias. O policial militar aposentado passou a procurá-lo em hospitais e prontos-socorros da cidade.

Na manhã de 23 de janeiro, Caetano passava pela rua Maria Carlota, na Vila Matilde, quando viu guardas-civis metropolitanos preservando um local. O destino do sargento aposentado era o Hospital Santa Marcelina e depois o Hospital Planalto, ambos em Itaquera, onde iria procurar pelo irmão.

Caetano se aproximou dos GCMs e se apresentou como policial militar. Ao olhar o corpo caído no chão, com ferimentos no pescoço e na cabeça, ele teve uma desagradável surpresa. A vítima jogada sob o viaduto era Django, o irmão dele. O PM o reconheceu sem dúvidas.

O sargento compareceu ao 10º Distrito (Penha), onde a ocorrência foi registrada. Em depoimento, ele contou à Polícia Civil que não tinha contato com Django havia dois ou três anos, e acrescentou que não sabia o telefone celular nem o endereço dele.

O PM aposentado declarou ainda que o irmão ingressou jovem na vida do crime e revelou que, por ser policial militar, decidiu manter distância dele. Caetano afirmou também que a casa onde morou na infância na Vila Siqueira deu lugar à avenida Jacu Pêssego e que com parte do dinheiro da desapropriação, foi morar em outro bairro humilde na zona leste.

Calote no Einstein

Já Django, de acordo com investigações do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), era dono de três imóveis administrados pela imobiliária do empresário acusado de ser o mandante do assassinato de seu amigo e comparsa Cara Preta.

Apesar de ser proprietário de apartamentos de luxo, acionista milionário da empresa de ônibus UPBUs e considerado um rico megatraficante do PCC, Django morreu deixando uma dívida de R$ 25.085,08 junto ao Hospital Albert Einstein.

Segundo a rede hospitalar, ele ficou internado entre os dias 29 de junho e 2 de julho de 2020, quando foi submetido a uma gastroplastia (redução do estômago), mas pagou apenas R$ 13.981,57 e ficou devendo o restante. O caso sobre a dívida foi parar na Justiça.