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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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Número 2 do PCC completa 10 anos de isolamento em penitenciária federal

05.jul.2017 -- Roberto Soriano, conhecido como "Tiriça", integrante do PCC, em foto de 2013 - Divulgação/SSP-SP
05.jul.2017 -- Roberto Soriano, conhecido como "Tiriça", integrante do PCC, em foto de 2013 Imagem: Divulgação/SSP-SP

Colunista do UOL

14/10/2022 04h00

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O preso Roberto Soriano, 49, o Tiriça, apontado pelo MP-SP (Ministério Público do estado de São Paulo) como o número 2 na hierarquia do PCC (Primeiro Comando da Capital), completa, no próximo mês, 10 anos de internação e isolamento em penitenciária federal.

Tiriça é o integrante da facção criminosa com mais tempo de internação no SPF (Sistema Penitenciário Federal). O prisioneiro deu entrada na Penitenciária Federal de Porto Velho (RO) em 16 de novembro de 2012. Foi transferido da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP).

Segundo a SAP (Secretaria Estadual da Administração Penitenciária), subordinada ao governo paulista, a remoção foi motivada após a apreensão de um bilhete encontrado no telhado da P2 de Venceslau, contendo mensagens para assassinar policiais militares da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar).

Peritos do Instituto de Criminalística realizaram exame grafotécnico e atestaram que Tiriça escreveu as mensagens de próprio punho. No bilhete havia ainda orientações sobre como refinar cocaína a partir da pasta-base e ordem para instalar fuzis em veículos.

Condenado a 49 anos pelos crimes de tráfico de drogas, roubos, sequestro e cárcere privado, além de tentativa de homicídio, Tiriça também é acusado pela Polícia Federal de mandar assassinar funcionários de penitenciárias federais.

Tanto a SAP quanto o Depen (Departamento Penitenciário Nacional) classificam Tiriça como criminoso de altíssima periculosidade; integrante da cúpula do PCC; liderança negativa dentro dos presídios estaduais e federais e articulador de represálias contra agentes da segurança pública.

O Sistema Penitenciário Federal atribui a Tiriça a coordenação de um plano que previa explosões de carros-bombas na sede do Depen, em Brasília, e em centros financeiros de cinco capitais do país. Para as autoridades, o preso tem grande poder financeiro e envolvimento em planejamento de fugas.

Defesa contesta acusações

A defesa do prisioneiro alega que Tiriça já teve deferidos pela Justiça todos os pedidos de renovação de permanência em presídios federais baseados em relatório de inteligência que narram fatos supostamente ocorridos em 2012 sobre os quais ele jamais foi investigado.

Na avaliação da defesa, os relatórios de inteligência foram elaborados há uma década com informações equivocadas e com base em notícias midiáticas e métodos não reconhecidos pela lei como legítimos para fundamentar qualquer decisão judicial.

Para os advogados de Tiriça, não há provas de que o preso seja integrante de organização criminosa. A defesa sustenta também que o prisioneiro tem boa conduta carcerária na Penitenciária Federal de Brasília, onde ele está custodiado, e requer o retorno do cliente para o sistema prisional paulista.

O prisioneiro passou por quatro dos cinco presídios federais. Em 16 de julho de 2014 foi transferido de Porto Velho para Mossoró (RN) e em 26 de abril de 2015 para Catanduvas (PR). Em 29 de janeiro de 2017 retornou a Porto Velho. Ele está no presídio de Brasília desde 17 de outubro de 2018.

Em Brasília, a diretoria da penitenciária confiscou um livro escrito por Tiriça por entender que a obra poderia trazer mensagens cifradas para a facção criminosa sobre a segurança da unidade federal. O caso foi divulgado por esta coluna na edição de 26 de outubro de 2020.

Após a publicação da reportagem, o advogado Cláudio Dalledone, defensor de Roberto Soriano, entrou em contato com com a coluna e divulgou a seguinte nota:

"Roberto Soriano tem contra ele uma investigação referente a bilhetes encontrados. Mas é importante destacar que foram realizados três exames grafotécnicos e em apenas um o resultado indicou que pode ser que a caligrafia seja efetivamente dele, o que está sendo prontamente repelido pela defesa, que vai indicar peritos e assistentes técnicos para contrapor isso".

A nota diz ainda que "desde que entrou no sistema, Roberto Soriano não foi processado nem denunciado criminalmente por nenhum desses fatos. O que se tem são relatórios sem comprovação. A certidão de antecedentes criminais de Soriano é clara neste sentido: ele não mandou, não determinou nenhum ataque a qualquer autoridade. Roberto Soriano tem todas as suas visitas monitoradas, tem comportamento carcerário excelente comprovado por certidões".

A defesa finaliza a nota afirmando que "a mística em torno do nome Roberto Soriano permite que se fantasiem muita coisa a cerca da existência e da pseudoparticipação dele na organização criminosa citada na reportagem".