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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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Polícia investiga o envolvimento do PCC em mais uma empresa de ônibus em SP

Deic apura o envolvimento do PCC na Auto Viação Transcap, sediada na zona sul paulistana - Reprodução/Transcap
Deic apura o envolvimento do PCC na Auto Viação Transcap, sediada na zona sul paulistana Imagem: Reprodução/Transcap

Colunista do UOL

12/10/2022 04h00Atualizada em 12/10/2022 06h23

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O Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), subordinado à Polícia Civil de São Paulo, apura o envolvimento do PCC (Primeiro Comando da Capital) na Auto Viação Transcap, sediada no Jardim Leônidas Moreira, zona sul paulistana.

Um dos sócios da Transcap, Valter da Silva Bispo, 53, é acusado de extorquir dinheiro de um advogado, de um contador da empresa e de uma testemunha protegida. Um outro cotista afirmou ao Deic que também foi vítima de extorsão na sede da companhia e ameaçado na presença de integrantes do PCC.

O advogado Adib Abdouni, defensor de Bispo, foi procurado pela reportagem, mas ainda não se manifestou. A versão da defesa do acusado será publicada na íntegra assim que houver um posicionamento.

Bispo foi preso temporariamente em 22 de agosto deste ano e teve a prisão preventiva decretada quatro dias depois pela juíza Luciana Menezes Scorza, do Fórum Central Criminal da Barra Funda. Ele está recolhido na carceragem do 31º Distrito Policial (Carrão).

Em 6 de setembro, a juíza Cynthia Torres Cristofaro, da 23ª Vara Criminal da Capital, aceitou a denúncia de extorsão contra Bispo, oferecida pelo Ministério Público Estadual. A magistrada decidiu manter a prisão preventiva do acusado.

Um dos cotistas da Transcap procurou o Deic em junho deste ano e afirmou que Bispo o acusou de ter desviado R$ 2 milhões da empresa e que deveria ressarcir o dinheiro em dez parcelas de R$ 200 mil "sob pena de prestar contas aos integrantes do PCC e sofrer consequências gravíssimas".

Com medo de ser morto, o cotista pagou a primeira parcela. Segundo ele, foi Bispo quem usou indevidamente o dinheiro da Transcap e comprou em 30 de dezembro de 2019 um lote em um condomínio no Guarujá (SP) e em 10 de dezembro de 2020 um imóvel no Residencial II em Alphaville, Barueri (SP).

O cotista explicou que a Transcap é originária da Unicoopers, uma cooperativa de perueiros que explorava a prestação de serviços de transporte público de passageiros na zona sul da capital paulista, da qual ele e Bispo foram eleitos para compor a diretoria.

Em 2014, ambos fundaram a Transcap e, em agosto de 2015, para poder participar de um processo licitatório e ter o número mínimo de capital social, a companhia teve de se associar à SIDSILVA Participações Ltda. O dono dela ficou com 36% das cotas da Transcap. Bispo e o outro cotista ficaram com 32% cada um.

Em agosto de 2020, Bispo transferiu para o nome dele todas as cotas pertencentes a SIDSILVA. O dono da empresa também se sentiu ameaçado e em março de 2021 decidiu se afastar definitivamente da Transcap.

Coronhadas e ameaças

O contador da Transcap também foi ouvido no Deic e revelou que foi acusado injustamente por Bispo de ter recebido R$ 285 mil da empresa, a título de honorários. O contador acrescentou que no mesmo dia sofreu ameaças na frente de três homens que disseram ser representantes do "crime" e da Favela Paraisópolis, na zona sul paulistana.

Já o advogado da Transcap declarou no Deic que foi acusado de ter participado do desvio de R$ 2 milhões. A vítima disse que foi agredida por Bispo com quatro coronhadas na cabeça no estacionamento do condomínio onde mora.

De acordo com o advogado, Bispo afirmou que o mataria caso fizesse algum "corre" para se livrar daquela situação. A vítima procurou um hospital para tratar dos ferimentos na cabeça. As agressões foram comprovadas à polícia por meio dos exames médicos realizados.

As vítimas ouvidas em inquérito policial ressaltaram que receberam ameaças também por WhatsApp. Os telefones celulares foram entregues à polícia e periciados.

Bispo também prestou depoimento. Ele reconheceu as mensagens enviadas por WhatsApp, mas disse que os diálogos não continham tom ameaçador. O sócio da Transcap afirmou que não extorquiu dinheiro do cotista, nem do contador e do advogado e que apenas cobrou o ressarcimento do dinheiro desviado.

Indagado se ameaçou as vítimas durante uma reunião na empresa, na frente de três homens que disseram ser representantes do "crime", ele afirmou não se lembrar de tal reunião nem soube dizer quem eram tais homens.

A Transcap é a terceira empresa de ônibus investigada em São Paulo nos últimos quatro meses por envolvimento com o PCC. Em junho, o Deic realizou uma operação na Transunião, no Itaim Paulista, zona leste, e apreendeu 18 veículos.

Diretores da empresa são suspeitos de manter ligações com a facção criminosa, como divulgou esta coluna.

Também em junho deste ano, o Denarc (Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico) sequestrou R$ 40 milhões em imóveis e veículos da UPBUS, no bairro do Limoeiro, zona leste. As investigações apontaram que os principais acionistas da companhia integram a cúpula do PCC. Um deles está recolhido em presídio federal e outro, em liberdade, é acusado de ser dono de 56 ônibus.