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Primeiro atentado terrorista do PCC completa 20 anos; vítima foi juiz de SP
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Domingo, final de fevereiro de 2003. Os criminosos Adilson Daghia, o Di ou Ferrugem; Reinaldo Teixeira dos Santos, o Funchal; e Ronaldo Dias, o Chocolate, acompanhados por uma mulher loira, viajaram de carro de São Paulo para Presidente Prudente, no interior do estado.
Eles seguiram para um hotel na região e fizeram uma reserva. Na bagagem de Ferrugem havia um terno. Dois dias depois, se passando por advogado, ele foi ao fórum da cidade com uma missão: acompanhar a rotina do juiz Antônio José Machado Dias, o Machadinho.
O magistrado era o corregedor e responsável por 14 presídios da região oeste do estado, incluindo o CRP (Centro de Readaptação Penitenciária) de Presidente Bernardes e as Penitenciárias 1 e 2 de Presidente Venceslau, fortes redutos do PCC (Primeiro Comando da Capital).
Os integrantes e líderes do PCC nutriam ódio pelo juiz-corregedor, segundo as investigações. Para os faccionados, Machadinho fazia vista grossa às sindicâncias abertas para apurar espancamentos nos presídios e demorava meses ou anos para analisar pedidos de progressão de regime e outros benefícios aos prisioneiros.
Ferrugem, o falso advogado, estudou por mais de uma semana a rotina do juiz-corregedor. E descobriu que ele tinha o hábito de dispensar a escolta às sextas-feiras. Machadinho saía do fórum de Prudente no final da tarde e costumava ir embora de carro, sozinho.
As investigações indicaram que a ordem do PCC para Funchal, Ferrugem e Chocolate era matar o juiz-corregedor. A data escolhida para o ataque, e não por acaso, foi 14 de março de 2003. Uma sexta-feira.
Machadinho estava em seu Vectra quando foi assassinado a tiros na rua José Maria Armond, na Vila Roberta, perto do fórum.
O juiz-corregedor tinha 47 anos, era casado, pai de dois filhos e namorava a juíza Cristina Escher, à época, transferida de São Paulo para a região de Presidente Prudente. A vítima foi baleada na cabeça e no peito. Morreu no local.
Agentes penitenciários tinham a informação de que o PCC planejava fazer uma festa ou comemorar algo no dia 15 de março de 2003. A data coincidia com a numeração das letras da sigla da facção criminosa. A letra P corresponde ao número 15 no alfabeto e a C ao 3, igual a 15.3.3.
Escolha proposital
Segundo servidores do sistema prisional paulista, o PCC escolheu a data propositalmente como uma forma de simbologia. O corpo de Machadinho foi enterrado no cemitério São Paulo, em Pinheiros, zona oeste da capital, em 15 de março de 2003.
Essa foi a "festa" dos integrantes do 15.3.3. Agentes penitenciários disseram que o PCC comemorou o assassinato do magistrado em vários presídios estaduais, especialmente na região oeste.
A morte do juiz-corregedor é considerada o primeiro atentado terrorista cometido pela facção criminosa. O ataque está completando 20 anos.
Os assassinos de Machadinho foram identificados, presos e levados a júri popular pelo crime hediondo. Funchal recebeu uma pena de 66 anos, Ferrugem, 52 anos e Chocolate, 47. João Carlos Rangel Luise, o Jonny, acusado de clonar o carro usado no crime, foi condenado a 18 anos.
Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado como o número 1 do PCC, e Júlio César Guedes de Moraes, como o número 2 na hierarquia da facção, foram acusados pelo MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo) como mandantes do crime e acabaram condenados a 29 anos cada. Os dois sempre disseram ser inocentes.
Na época da acusação, Marcola chegou a escrever uma carta, à qual a reportagem teve acesso, alegando não ter envolvimento em atentados do PCC: "Fui contra qualquer ato criminoso, portanto, não é justo que eu seja punido por evitar o terror", diz um trecho da correspondência.
Investigações conduzidas pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial e de Combate o Crime Organizado), subordinado ao MP-SP, apontaram que o PCC paga, até hoje, uma espécie de "pensão vitalícia" aos assassinos do juiz-corregedor. A "mesada" seria de R$ 5 mil mensais.
Assista ao primeiro capítulo do documentário "PCC - Primeiro Cartel da Capital":
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