Os dias de lazer do líder do PCC liberado por juiz para visitar a mulher
Corria o verão de 2005. Era véspera de Carnaval. Um escândalo irrompeu no sistema prisional paulista. Um fundador do PCC (Primeiro Comando da Capital), condenado à época a 62 anos em regime fechado, deixou o presídio para passar uns dias de lazer em casa com a mulher em São Paulo.
A autorização havia sido concedida pelo então juiz-corregedor da Vara das Execuções Penais de Tupã, Edmar de Oliveira Ciciliati, falecido aos 51 anos em 16 de setembro de 2010, vítima de câncer. O beneficiado pelo magistrado foi o preso José Márcio Felício, o Geleião.
A saída do fundador do PCC pela porta da frente da Penitenciária de Oswaldo Cruz deveria ser mantida em sigilo absoluto, a pedido do juiz. Mas o segredo foi desvendado. Geleião acabou fotografado em casa. As fotos vazaram à imprensa.
A jornalista Fátima Souza era repórter do Diário de S. Paulo. Ela teve acesso ao material com exclusividade e divulgou a notícia no matutino, em primeira mão, nas edições de 2 e 3 de fevereiro daquele ano. O caso veio a público e teve repercussão nacional. Foi um grande furo de reportagem.
Geleião foi fotografado em casa. Estava bem à vontade. Em uma das imagens, o fundador do PCC aparecia deitado só de cueca na cama, tomando cerveja. Outra foto mostrava o preso, considerado de alta periculosidade, sentado no sofá, descontraído, usando o telefone e bebendo no gargalo.
Promessas não cumpridas
As fotos foram entregues ao Ministério Público. A Corregedoria Geral de Justiça chegou a instaurar procedimento para apurar os fatos. Segundo fontes do sistema prisional, o juiz Ciciliati autorizou Geleião a ficar uns dias longe das grades para compensá-lo pelos "serviços prestados" à Justiça.
No ano anterior, em fevereiro de 2004, Geleião e outros prisioneiros foram retirados do presídio e levados para a sede da 3ª Companhia do 25º Batalhão do Interior, na cidade de Oswaldo Cruz. As autoridades repassaram uma missão aos presidiários.
Eles receberam aparelhos de telefone celular e foram orientados a manter contato com integrantes do PCC para investigar possíveis planos de atentados da facção criminosa contra agentes e prédios públicos. As idas dos presos ao quartel tinham autorização judicial do próprio Ciciliati.
Geleião aceitou colaborar com as forças de segurança porque havia sido excluído do PCC e nutria ódio mortal contra Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, que havia assumido a liderança máxima da organização, segundo investigações da Polícia Civil. Ele sempre negou.
O PCC, criado em 31 de agosto de 1993 na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté (SP), expulsou Geleião de seus quadros por considerá-lo traidor. O preso, um dos oito fundadores da facção, participou de delação premiada contra a liderança e outros integrantes do grupo criminoso.
Muitas promessas foram feitas a Geleião, por ele ter colaborado com as forças de segurança. Porém, nenhuma foi cumprida. O criminoso estava preso desde 7 de julho de 1979 e permaneceu no cárcere, ininterruptamente, por 41 anos e 10 meses.
O prisioneiro morreu em 10 de maio de 2021, aos 60 anos, vítima de covid, no Centro Hospitalar do Sistema Penitenciário, na zona norte de São Paulo, onde estava internado havia um mês, com 50% dos pulmões comprometidos pela doença. Ele era o único fundador do PCC ainda vivo.
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