Como 'Gianecchini do crime' foi alvo de extorsão de agentes do Deic em SP
Em outubro de 2015, Tiago Ciro Tadeu Faria, 41, ainda não era conhecido como "Gianecchini do crime" nem apontado como integrante do bando de "domínio de cidades", responsável por sitiar cidades pequenas do Brasil e roubar milhões de agências bancárias com o uso de explosivos.
Segundo a Polícia Federal e a Polícia Civil de São Paulo, Tiago participou de ao menos quatro mega-assaltos, de 2017 a 2020, e foi condenado a 72 anos em dois deles: um em Bauru, em 2018, que lhe rendeu uma pena de 19 anos, e outro em Botucatu, em 2020 —mais 53 anos de reclusão.
Bem antes disso, policiais da 3ª DIG (Delegacia de Investigações Gerais), do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), já seguiam seus passos. Queriam saber como ele havia adquirido veículos de luxo e montado uma academia de ginástica, na zona norte paulistana.
No dia 8 de outubro daquele ano, a mulher de Tiago recebeu as visitas de um agente policial e de um investigador da 3ª DIG. Os policiais a questionaram sobe o patrimônio do casal, alegando que os bens eram incompatíveis com a renda familiar.
Segundo o MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo), os policiais passaram a intimidar a mulher de Tiago com ameaças de prisão e investigação pelo COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras). Ela foi intimada a comparecer ao Deic.
Em 26 de outubro, ela foi ao departamento acompanhada de um advogado. Os policiais reafirmaram que o patrimônio do casal era incompatível e, em determinado momento, mandaram a mulher sair da sala. A conversa depois foi somente com o defensor dela.
O MP-SP apurou que o agente e o investigador exigiram R$ 300 mil para não investigar o casal por lavagem de dinheiro. Dois dias depois, ela e o advogado retornaram ao prédio do Deic. Dessa vez, porém, gravaram as conversações.
Os policiais reduziram o valor para R$ 200 mil e passaram a falar em código. Trocaram o valor do dinheiro exigido pelos termos terreno e metros quadrados. Perguntaram ao advogado se o casal tinha como "construir no terreno de 200 metros quadrados".
Tiago e a mulher dele procuraram o GECEP (Grupo Especial de Controle Externo da Atividade Policial), subordinado ao MP-SP, para prestar queixa. O agente e o investigador foram presos e denunciados à Justiça pelo crime de extorsão.
Corregedoria apurou o caso
A Corregedoria da Polícia Civil abriu inquérito contra os policiais. O agente foi expulso da corporação, em 18 de junho de 2019, a bem do serviço público. O investigador também recebeu punição na mesma data. A aposentadoria dele foi cassada por decisão judicial.
Tiago ficou nacionalmente conhecido no Carnaval de São Paulo de 2012. Ele invadiu o setor de apuração e rasgou as notas dos jurados. O assaltante foi preso, em setembro de 2020, pelos ataques a bancos. Até junho de 2023, estava na Penitenciaria 2 de Presidente Venceslau (SP).
Ele foi acusado com outros colegas de cela de serrar a grade da janela e tentar fugir. Tiago alegou ser inocente. A Justiça de São Paulo, no entanto, autorizou a remoção dele para a Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná, onde se encontra até hoje.
Outro lado: a defesa de Tiago Ciro Tadeu Faria foi procurada pela reportagem, mas não quis se manifestar.
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