Presos do PCC tiveram acesso a armas no presídio de Mossoró (RN) em 2019
A fuga de dois presos do CV (Comando Vermelho) da Penitenciária Federal de Mossoró (RN) na última quarta-feira (14) não foi a única falha registrada na segurança da unidade, até então considerada de segurança máxima pelas autoridades carcerárias.
Em 28 de dezembro de 2019, o preso José de Arimatéia Pereira Faria de Carvalho, o Pequeno, 39 anos, apontado como integrante da cúpula do PCC (Primeiro Comando da Capital), driblou seguranças do presídio e teve acesso a duas espingardas calibre 12.
O episódio foi escondido a sete chaves, mas no ano seguinte, o site Ponte Jornalismo conseguiu com exclusividade uma documentação mostrando detalhes do episódio, que colocou em xeque, naquela época, a vigilância no presídio federal.
Segundo a documentação, o prisioneiro Pequeno estava na cela 03 da ala B da penitenciária quando os agentes federais Carlos Bruno Araújo da Silva e Cláudio César Bastos Alves o algemaram e o levaram para o pátio de banho de sol.
Além de Pequeno, os agentes conduziram o parceiro dele, Cristiano Dias Gangi, o Crisão, também apontado como integrante da cúpula do PCC, e o prisioneiro Adriano Hilário, da cela 35B. O trio permaneceu no mesmo pátio enquanto um quarto detento tomava banho de sol isolado em local próximo.
Armamento estava no corredor
Os funcionários Carlos e Cláudio e o presidiário Pequeno foram ouvidos em declarações no processo disciplinar instaurado pela Penitenciária Federal de Mossoró para apurar possível ato infracional atribuído aos dois integrantes do PCC.
Carlos alegou em depoimento que depois de deixar os três detentos no banho de sol retornou com o colega Cláudio à ala B para fazer revista nas celas. Ele acrescentou que enquanto faziam a inspeção no primeiro xadrez notaram que Pequeno corria na direção deles em posse de espingarda calibre 12.
O preso deixou a outra arma no corredor da mesma ala, onde as armas tinham sido deixadas pelos agentes. Carlos contou que Pequeno gritou: "perdeu, perdeu". Os agentes então fecharam a porta da cela, mas tomaram um susto devido a gravidade da situação.
Segundo o depoimento de Carlos, Pequeno abriu brechas na porta da cela, apontou a espingarda em direção aos dois agentes e só não atirou porque a arma estava travada ou em pane.
Tiros seriam letais
O agente Cláudio declarou que empurrou a porta e o preso para trás e conseguiu segurar a espingarda. Contou ainda que ele e Carlos, após muita resistência, jogaram o preso no chão, o imobilizaram, o desarmaram e o algemaram.
Os agentes não explicaram como o preso saiu do pátio do banho de sol. Mas acreditam que foi por um pequeno vão nas grades onde os prisioneiros são algemados. Carlos e Cláudio acrescentaram que a intenção de Pequeno era atirar neles, pegar chaves de celas, soltar os presos e dar início à rebelião.
Os dois funcionários explicaram que as balas da espingarda eram de borracha, mas observaram que se os tiros fossem disparados à curta distância poderiam ser letais.
Pequeno negou a intenção de atirar nos agentes e de abrir as outras celas para promover uma rebelião no presídio. Ele sustentou no depoimento que sua intenção era render os guardas, colocar o uniforme de um deles e tentar fugir sozinho.
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Quero receberPreso disse que não quis atirar nos agentes
O prisioneiro alegou ainda que não atirou nos agentes porque não quis, pois entende de armas e a espingarda calibre 12 não apresentava pane nem estava travada. "Em nenhum momento quis efetuar disparos. Minha intenção era apenas ameaçar e tentar fugir", contou.
Pequeno revelou que após a saída para o banho de sol passou pela fresta do local onde são colocadas as algemas nos presos. "Primeiro eu coloquei a cabeça e depois o corpo. Passei muito rápido, sem dificuldade, em poucos segundos".
Depois disso - continuou - ele subiu na ala B, pegou as amas, deixou uma no chão e levou a outra, mirando em direção aos agentes. O preso ressaltou que conhecia a rotina do presídio e sabia que em todos os plantões os portões que dão acesso ao pátio do banho de sol ficam abertos.
"Eu tinha certeza que passaria pela fresta e pegaria as espingardas. Sou condenado a mais de 80 anos de cadeia. Só queria passar pelos portões vestido de agente e fugir."
Longas condenações
Após imobilizar Pequeno, os agentes voltaram para o banho de sol e encontraram Crisão muito exaltado. Segundo os funcionários, ele desobedeceu a ordem para deitar-se no chão e gritou: "Lá fora é tiro na cara. Tem fuzil. Lá fora a gente mata mesmo".
Crisão também foi dominado e conduzido para a cela 30B. No depoimento, ele disse que ficou nervoso porque os agentes jogaram granada de luz e de som e efetuaram disparos no pátio de banho de sol.
Os agentes alegaram que efetuaram o disparo para testar a arma e saber se ela apresentava pane ou estava travada. Funcionários constataram que as espingardas as quais Pequeno teve acesso se encontravam em condições normais de tiro.
Pequeno foi condenado a 86 anos e dois meses de prisão e Crisão a 62 anos e nove meses. Ambos foram transferidos da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no Interior de São Paulo, para a Penitenciária Federal de Mossoró, em fevereiro de 2019.
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