Josmar Jozino

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Reportagem

Filhos vivem 100 dias de angústia à espera de corpo do pai falecido em SP

O advogado Antônio Sérgio Soares da Cruz morreu em 27 de dezembro de 2023, aos 80 anos, de causas naturais, no Hospital e Maternidade São Cristóvão, na Mooca, zona leste de São Paulo. O corpo foi retirado de um velório por uma empresa funerária da Vila Mariana, zona sul, para ser levado até um crematório, mas desapareceu.

A família vive cem dias de angústia, sem respostas. O psicanalista Marcelo Cruz, 45, e a advogada Daniela Cruz, 33, filhos de Antônio, procuraram a Polícia Civil para reclamar sobre o sumiço do corpo do pai. Um boletim de ocorrência foi registrado no 1º DP (Sé), em 9 de fevereiro.

Os filhos disseram ter contratado a Consolare para retirar o corpo no hospital e levá-lo até o Cerimonial Pacaembu, na zona oeste, onde foi velado. Segundo a família, a empresa se comprometeu em fazer a remoção do corpo para um crematório e depois entregar as cinzas. O serviço custou R$ 20 mil.

Marcelo disse ao UOL que a Consolare optou em levar o corpo do pai dele para o Crematório Memorial Cidade Jardim, em Rio Claro, no interior paulista. Ficou acertado que a cremação seria realizada no prazo máximo de três dias e a entrega das cinzas à família, em cinco dias.

Empresa diz que cinzas estão disponíveis na agência

A reportagem telefonou na tarde de ontem (4) para o Memorial Cidade Jardim, de Rio Claro. Uma funcionária que não quis se identificar consultou os arquivos, e disse não ter encontrado o nome de Antônio e informou que o corpo dele não foi velado lá.

A Consolare também foi procurada e informou por meio de nota que "está apurando o ocorrido e tem tentado entrar em contato com a família e seu advogado desde o início de fevereiro, porém sem sucesso".

A nota diz ainda que "as cinzas de Antônio Sérgio Soares da Cruz estão disponíveis para retirada na agência da Vila Mariana desde o dia 7 de fevereiro".

A empresa é uma das quatro que ganharam a concessão municipal no ano passado e é responsável pela gestão, operação, manutenção, revitalização e expansão de sete cemitérios em São Paulo: Consolação, Vila Mariana, Santana, Tremembé, Vila Formosa 1 e 2 (o maior da América Latina), e Quarta Parada.

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Hugo Albuquerque, advogado da família de Antônio, afirmou que entrou com representação no Ministério Público do Estado de São Paulo. Na esfera policial, o caso deve ser investigado pela Polícia Civil de Rio Claro, cidade onde fica o crematório, para onde o corpo deveria ser levado.

Email enviado pelo advogado da família para a empresa Consolare
Email enviado pelo advogado da família para a empresa Consolare Imagem: Reprodução

Desrespeito e desamparo

Daniela Cruz classificou de absurdo e desrespeito o desaparecimento do corpo do pai. Ela disse que a família se sente desamparada e está dilacerada. A advogada acrescentou que desde a morte do pai as informações da Consolare são divergentes.

Já Marcelo Cruz afirma ter vários amigos médicos e diz que eles jamais viram algo parecido. O psicanalista, que também é professor universitário, considera o desaparecimento do corpo do pai "um caso extremamente hediondo".

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Em 28 de dezembro do ano passado, a OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil seção São Paulo) divulgou nota lamentando profundamente o falecimento de Antônio Sérgio Soares da Cruz.

A nota diz que "Antônio contribuiu significativamente para a área jurídica trabalhista na capital paulista, deixando um legado valioso para a advocacia". A OAB-SP se solidarizou com familiares e amigos e reiterou o "profundo respeito à força e destemor que sempre guiaram a trajetória de Antônio Sérgio Soares da Cruz".

Reportagem

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