Conteúdo publicado há 25 dias
Josmar Jozino

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Reportagem

Policiais civis são investigados por envolvimento na morte de Japa, do PCC

As investigações sobre a morte de Rafael Maeda Pires, 31, o Japa, envolvido em uma trama que culminou com a prisão do empresário Antônio Vinícius Gritzbach, acusado de matar Anselmo Bechelli Santa Fausta, o Cara Preta, homem forte do PCC (Primeiro Comando da Capital), podem ter reviravolta.

Japa foi encontrado morto em 14 de maio do ano passado com dois ferimentos na cabeça em um Corolla preto, blindado, no subsolo do edifício comercial Castelhana Offices, no Tatuapé, zona leste, palco de uma guerra com várias baixas envolvendo narcotraficantes ligados ao PCC.

A Polícia Civil instaurou inquérito para apurar um possível caso de induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio. A suspeita das autoridades é de que Japa tenha sido obrigado a se matar por ordem do "tribunal do crime" do PCC, caso contrário seria assassinado.

O caso, no entanto, pode ter desdobramento e a hipótese de Japa ter sido assassinado, inclusive com a participação de policiais civis, não está descartada. Isso porque o DHPP (Departamento de Homicídios e proteção à Pessoa) deflagou hoje a Operação Sexta-Feira.

Mandados de busca e apreensão

Foram expedidos pela Justiça de São Paulo mandados de busca e apreensão para 13 endereços de investigados que guardam relação com os momentos anteriores à morte de Japa. Os agentes apreenderam duas pistolas e um fuzil, dos quais serão verificados as origens e registros.

Também foram encontrados duas barras de ouro ainda de origem desconhecida, além de aparelhos celulares e mídias de armazenamento de dados. Os materiais serão encaminhados à perícia. A polícia investiga se o montante faz parte do lote de 734 kg roubados no aeroporto de Guarulhos, em 25 de julho de 2019, já que Anselmo Bechelli Santa Fausta, o Cara Preta, era investigado por envolvimento neste crime.

A operação foi coordenada pela equipe C-LESTE da 2ª Delegacia de Polícia da Divisão de Homicídios do DHPP e contou com a participação de 50 policiais em 30 viaturas das três Divisões que compõem o DHPP. Na casa dos policiais civis averiguados foram aprendidos celulares.

Uma hora antes de ser encontrado morto, Japa, também apontado como um dos homens fortes do PCC na zona leste de São Paulo, enviou pelo telefone celular a seguinte mensagem para a mulher dele: "Cuida bem da nenê. Eu te amo".

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Alguns fatos intrigaram os investigadores. O telefone celular dele, um Iphone 14, sumiu. Dentro do Corolla foi apreendida uma pistola Beretta, 9mm, com 16 cápsulas intactas e do lado de fora outra do mesmo calibre. O motor do veículo estava ligado e a porta do motorista aberta.

Pistola era do amigo

Policiais apuraram que a arma era de um amigo de Japa. O amigo prestou depoimento e contou que havia se encontrado com ele no Tatuapé, na tarde de 4 de maio, para pagar uma dívida de R$ 1.500,00. Ele acrescentou à polícia que foi ao local de moto.

Disse ainda que carregava uma mochila camuflada e entrou no carro de Japa. Revelou também que um motorista buzinou reclamando que a moto dele estava atrapalhando o trânsito. Ele então desceu do veículo para estacionar a motocicleta em outro lugar.

Ao retornar conversou com Japa por alguns minutos, se despediu dele, pegou suas coisas e foi embora. Por volta das 18h foi informado por telefone que Japa havia se matado usando a arma dele e só quando chegou em casa notou que a pistola não estava na mochila.

Segundo os agentes, Japa foi ao edifício porque estava interessado em salas comerciais de um empresário amigo dele. A Polícia Civil chegou a analisar imagens das câmeras de segurança do condomínio para tentar elucidar o caso.

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Queima de arquivo

Japa foi investigado por suposta participação na trama que envolve a prisão do empresário Gritzbach, acusado de ser o mandante dos assassinatos de Cara Preta, e de um motorista dele, em dezembro de 2021 no Tatuapé.

Policiais disseram que Cara Preta e Japa eram amigos e chefes do tráfico de drogas na favela Caixa D'Água, em Cangaíba, zona leste. Segundo a polícia, Vinícius mandou matar Cara Preta porque recebeu da vítima R$ 40 milhões para investir em criptomoeda, desviou o dinheiro e o golpe foi descoberto.

Vinícius foi indiciado pelo duplo homicídio. Ele ficou preso, mas agora responde ao processo em liberdade e nega envolvimento no crime. No dia do assassinato de Cara Preta e do motorista dele, Antônio Corona Neto, 33, o Sem Sangue, mortos a tiros, o empresário foi sequestrado.

Ele alegou que Japa foi um dos homens que o levaram para dois cativeiros e o libertaram. Segundo as investigações, o empresário pagou R$ 200 mil para o atirador Nóe Alves Schaun, 42, matar Cara Preta. O pistoleiro teria sido contratado pelo agente penitenciário David Monteiro da Silva, 38.

Depois da morte de Cara Preta, o "tribunal do crime" do PCC entrou em ação para descobrir os assassinos e a motivação do caso. Japa e Cláudio Marcos de Almeida, 50, o Django, outro chefe do tráfico de drogas na Favela Caixa D'água, foram recrutados pela facção criminosa para "presidir o júri".

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Vinícius só não foi morto em um dos cativeiros graças à intervenção de Django. Porém, por agir em defesa do empresário e não ter impedido o assassinato de Cara Preta, Django foi enforcado e jogado sob o Viaduto da Vila Matilde, zona leste, em 23 de janeiro de 2022.

Noé também foi decretado à morte pelo "tribunal do crime" do PCC e acabou torturado, esquartejado e teve a cabeça decepada. Ao lado dos restos mortais havia um bilhete do PCC chamando-o de "pilantra" e de assassino de Cara Preta e Sem Sangue.

A polícia suspeitava que Japa tinha dado a ordem para matar Noé e Django e que poderia ter sido induzido pelo PCC a cometer suicídio. Agora, a possibilidade de Japa ter sido assassinado como queima de arquivo já não é descartada. A reportagem não conseguiu falar com os advogados dele.

As defesas de Vinícius e David afirmam que os clientes são inocentes de todas as acusações e que tudo será provado no curso processual.

Reportagem

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