Caso Gritzbach: Delegado denunciado chefiou investigadores presos pela PF
O delegado Fábio Baena Martim, acusado por Antônio Vinícius Gritzbach de lhe pedir R$ 40 milhões para livrá-lo de um inquérito de duplo homicídio, chefiou dois investigadores que teriam sequestrado o delator e acabaram presos pela Polícia Federal por corrupção passiva, organização criminosa e lavagem de dinheiro.
O empresário foi assassinado no último dia 8 no aeroporto internacional de Guarulhos (SP), oito dias depois de procurar a Corregedoria da Polícia Civil para denunciar agentes públicos por corrupção. Ele já havia delatado integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital).
Os investigadores presos pela PF são Valdenir Paulo de Almeida, 57, o Xixo, e Valmir Pinheiro, 55, o Bolsonaro. Eles foram detidos em 3 de setembro deste ano, acusados de receber R$ 800 mil de criminosos para não levar adiante investigações sobre tráfico internacional de drogas.
Segundo a PF, a propina foi paga pelo narcotraficante João Carlos Camisa Nova Júnior, 39, o Dom Corleone, em 25 de novembro de 2020. Na época, Xixo e Bolsonaro trabalhavam no Denarc (Departamento Estadual de Narcóticos).
Sequestrado no Tatuapé
Porém, em 21 de junho de 2023, ambos atuavam na 2ª Delegacia Seccional (Sul), eram chefiados pelo delegado Baena e foram acusados de sequestrar Gritzbach no Tatuapé, na zona leste de São Paulo, e de levar a vítima para um cativeiro do PCC no Jardim Brasília, na mesma região.
O DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) instaurou inquérito para apurar o caso. A princípio, Gritzbach negou ter sido sequestrado. Mas num segundo depoimento, prestado em 26 de junho de 2023, ele mudou a versão.
Gritzbach estava em liberdade havia duas semanas. Tinha sido preso pela acusação de mandar matar Anselmo Becheli Santa Fausta, 38, o Cara Preta, e Antônio Corona Neto, 33, o Sem Sangue, dois narcotraficantes do alto escalão do PCC, mortos a tiros em 27 de dezembro de 2021 no Tatuapé.
No depoimento, o empresário alegou que foi levado ao Jardim Brasília em um Palio vermelho ocupado por Xixo, por um segundo policial (Bolsonaro) e também por um terceiro homem, integrante do PCC. De acordo com ele, o desconhecido queria uma lista dos imóveis de Cara Preta.
Caso arquivado
No novo depoimento, Gritzbach revelou que enquanto esteve com Xixo, um advogado ligou para o policial, a quem ofereceu R$ 3 milhões para que o entregasse aos comparsas de Cara Preta. Depois disso ele acabou liberado e foi embora.
A Corregedoria da Polícia Civil abriu inquérito para apurar a conduta dos dois investigadores e descobriu que eles levaram Gritzbach até o Jardim Brasília no Pálio vermelho do 95º DP (Heliópolis), distrito subordinado à Seccional Sul, onde eles foram chefiados pelo delegado Baena.
Os investigadores também foram ouvidos e negaram ter sequestrado Gritzbah. Em 2 de setembro deste ano, a Justiça determinou o arquivamento do inquérito. Xixo e Bolsonaro, no entanto, acabaram presos no dia seguinte pela Polícia Federal.
Policiais afastados
Já o empresário Gritzbach, oito dias antes de ser assassinado com 10 tiros de fuzis no terminal 2 do aeroporto, procurou a Corregedoria da Polícia Civil novamente. E dessa vez para fazer graves acusações contra o delegado Baena e outros investigadores.
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Quero receberEle disse que Baena, quando trabalhava no DHPP e presidia as investigações sobre os assassinatos de Cara Preta e Sem Sangue, lhe pediu R$ 40 milhões para tirar o nome dele do inquérito que apurava o duplo homicídio. Após a denúncia, o delegado e os outros policiais foram afastados de suas funções.
Uma força-tarefa investiga o assassinato de Gritzbach. Kauê do Amaral Coelho, 29, e o sócio Matheus Augusto de Castro Mota, 33, acusados de envolvimento no crime, tiveram a prisão temporária decretada pela Justiça e estão foragidos.
A Polícia Civil diz ter identificado outros dois homens suspeitos de participação no homicídio e espera prendê-los nos próximos dias. Os nomes não foram revelados. Um deles seria um dos atiradores e o outro, um dos mandantes, como informou esta coluna no último sábado.
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