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Josmar Jozino

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Reportagem

Jovem arremessado de ponte diz que PM o ameaçou: 'Ou pula ou jogo você'

Marcelo Barbosa Amaral, 25, jogado da ponte da Cidade Ademar, zona sul de São Paulo, no último domingo (1º), disse em depoimento à polícia que o PM Luan Felipe Alves Pereira o ameaçou: "Você tem duas opções. Ou você pula da ponte ou eu jogo você e sua motocicleta", teria dito o agente.

Marcelo afirmou que estava sozinho voltando da casa da esposa em sua motocicleta. Ele relatou que quando chegou na Avenida Cupece e virou a direita, percebeu que a região estava tomada por policiais com cassetete a mão. O homem detalhou que freou a moto e os policiais começaram a correr em sua direção.

O motociclista explicou à polícia que os PMs começaram a correr em sua direção após ele se assustar com a quantidade de policiais. O homem disse que desceu da moto e foi perseguido. Ele contou que começou a apanhar na cabeça e nas costas com cassetete. Afirmou que o policial militar que o agrediu o levou agarrado pelo colarinho até a beira da ponte.

"Você tem duas opções. Ou você pula da ponte ou eu jogo você e sua motocicleta", disse o agente, segundo o depoimento de Marcelo. Ele lembra que disse não ser ladrão. "Minha moto não é roubada. Não tem porque fazer isso", afirmou na ocasião ao PM. Foi neste exato momento que o policial o jogou de cima da ponte.

Marcelo Barbosa caiu no córrego e recebeu ajuda de alguns moradores, que lhe indicaram um caminho para fugir do local sem ser visto. Com a cabeça sangrando, o rapaz conseguiu uma carona e foi socorrido para a UPA Santa Catarina.

O motociclista afirmou que ficou com lesões no corpo decorrentes das agressões sofridas com cassetetes e não da queda da ponte. Ele também destacou que apenas um policial militar lhe agrediu, o mesmo que o jogou da ponte. O homem lembrou que não estava em alta velocidade e que não houve perseguição.

Ele disse não saber o motivo de ter sido agredido, já que não correu e nem agrediu verbalmente nenhum oficial. Os PMs, segundo o rapaz, não pediram os seus documentos e não perguntaram o seu nome, apenas saíram correndo atrás dele. Marcelo declarou que não tem passagem pela polícia e que trabalha como manobrista na região da Paulista e Jardins.

Marcelo também reconheceu o PM Luan Felipe Alves Pereira, que foi preso, como sendo o homem que o jogou da ponte. Os PMs faziam policiamento ostensivo no bairro e tentaram dispersar os frequentadores de um baile funk.

O rapaz chegou ao distrito policial acompanhado de uma advogada e, segundo agentes policiais, ainda estava bastante assustado com o trauma vivido no final de semana. Ele havia saído de São Paulo, com medo de sofrer novas represálias dos PMs, e tinha ido para uma cidade no interior do estado.

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O depoimento deveria acontecer no 26º DP (Sacomã), área de jurisdição da ocorrência, mas foi marcado na 2ª Seccional justamente para evitar um possível encontro da vítima com outros PMs do 24º Batalhão (Diadema), que por ventura fazem patrulhamento na Vila Clara, onde a vítima residia.

Marcelo ficou três horas na delegacia. Usava um capuz. Ele foi levado ao IML (Instituto Médico Legal) para ser ser submetido a exame de corpo de delito e depois seguiria para a Corregedoria da PM, onde prestaria novo depoimento.

Não é por acaso que Marcelo teme pela integridade física. Reportagem exclusiva de Herculano Barreto, publicada hoje no UOL, revela que após o episódio de domingo, policiais militares estiveram no bairro onde o rapaz morava, à procura dele para "terminar o serviço", contaram parentes.

Em entrevista exclusiva à TV Globo, Antônio Donizete do Amaral, o pai de Marcelo classificou de inadmissível a atitude do policial militar. Ele disse que o filho é trabalhador e nunca se envolveu com nada errado. O rapaz está traumatizado.

Donizete acrescentou que o filho é "trabalhador". Afirmou ainda que gostaria de ter uma explicação do policial militar, complementando também que "a PM esta aí para fazer a defesa da população, e não para fazer o que fez com meu filho".

Luan Felipe era lotado na Rocam (Rondas Ostensivas com Apoio de Moto) do 24º Batalhão. Em março do ano passado, ele fazia patrulhamento com o soldado Deives Nascimento dos Santos, 33, na rua Padre Antônio Tomás e se envolveu em uma ocorrência com morte.

Reportagem

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