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Juliana Dal Piva

REPORTAGEM

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Eduardo Bolsonaro mente ao dizer que cidade de Chapecó (SC) "esvaziou" UTIs

Jair Bolsonaro durante visita a Chapecó (SC)   - Tarla Wolski/Colaboração para o UOL
Jair Bolsonaro durante visita a Chapecó (SC) Imagem: Tarla Wolski/Colaboração para o UOL

Colunista do UOL

12/04/2021 14h12

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O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) postou no Twitter nesta segunda-feira (12) que os leitos de UTI (Unidades de Terapia Intensiva) da cidade de Chapecó, no oeste de Santa Catarina, foram esvaziados. A informação, no entanto, é falsa. Os dados da Secretaria de Saúde de Chapecó mostram que a lotação das UTIs da cidade é superior a 90%.

O parlamentar escreveu: "Fazendo tratamento imediato Chapecó esvaziou suas UTIs. Porém, várias cidades matam seus cidadãos seguindo a 'ciência'". O boletim de ocupação de leitos da cidade com data desta segunda-feira (12) mostra que 90% dos leitos de UTI do Hospital Regional, unidade pública, estão ocupados. Já no hospital privado da cidade o total de ocupação chega a 95%.

CHAPECÓ - Reprodução - Reprodução
Boletim informativo da Prefeitura de Chapecó (SC)
Imagem: Reprodução

A postagem de Eduardo Bolsonaro foi feita uma semana depois que o presidente Jair Bolsonaro postou um vídeo do prefeito de Chapecó, João Rodrigues, em uma unidade de campanha, improvisada durante os últimos dois meses. Apenas essa unidade foi esvaziada nas últimas semanas depois que a fila por UTI diminuiu. Esse espaço chamado de "Centro Avançado de Atendimento Covid", onde o vídeo foi gravado, tinha apenas 20 leitos de Unidade de Tratamento Semi-Intensivo. Bolsonaro chegou a visitar o local na semana passada. A maior parte dos leitos, porém, fica no Hospital Regional do Oeste, onde o presidente não foi.

A cidade, porém, viu o total de mortes por covid-19 quadruplicar este ano, em apenas três meses. O boletim epidemiológico desta segunda-feira (12) mostra que a cidade contabiliza 560 mortes. Foram 23 apenas na semana passada.

Essa situação se agravou muito desde janeiro. Em 1º de janeiro deste ano, a cidade registrava 123 mortos desde março do ano passado. Foram 437 mortes apenas em pouco mais de três meses.

Na semana passada, a prefeitura de Chapecó mudou a apresentação dos dados do boletim epidemiológico e passou a identificar a origem dos pacientes internados. Atualmente, 166 pessoas estão internadas em dois hospitais, um público e um privado, a maioria é de Chapecó: 96.

No ano passado, a cidade teve dados de letalidade bem inferiores. A primeira morte por covid-19, por exemplo, foi registrada apenas em 18 de maio - quase dois meses depois dos primeiros casos no Brasil.

A situação se agravou muito a partir do início do ano depois que, em 7 de janeiro, a prefeitura permitiu, por decreto, que bares e restaurantes funcionassem sem restrição de horário. Até então, os estabelecimentos só podiam funcionar até a meia-noite. Chegou a ser autorizada a apresentação de música ao vivo, desde que respeitado o distanciamento social, uso de máscara, álcool gel e o limite de quatro músicos. Também foram liberados casamentos, aniversários e formaturas.

No último sábado (10), em nota à coluna, a prefeitura disse que o "aumento dos casos de contágio no município tem relação com o aparecimento da variante P1 da Covid. Houve um alto contágio, chegando a um pico de 847 contaminados no dia 16 de fevereiro, e 5,5 mil ativos no dia 4 de março. No dia 5 de março havia 351 internados, sendo 252 em espaços públicos".

A prefeitura disse ainda que no Hospital Regional do Oeste, que atende toda a região Oeste catarinense e que durante mais de dois meses esteve com 100% de ocupação de UTI, o número de leitos intensivos foi triplicado nesse período.

Por fim, a nota disse que o Centro Avançado de Atendimento Covid, onde o vídeo foi gravado, abriu 75 leitos de enfermaria e 20 de Unidade de Tratamento Semi-Intensivo. A gravação do vídeo postado pelo presidente Jair Bolsonaro, segundo a prefeitura, teve como "intenção mostrar o espaço onde mais de 200 pessoas foram atendidas, onde infelizmente ocorreram 19 óbitos, mas 85 tiveram toda a assistência médica até conseguirem uma vaga em hospital, além de proporcionar 102 altas".