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Juliana Dal Piva

REPORTAGEM

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Nos bastidores, Jair Bolsonaro diz a assessores que pode desobedecer STF

Colunista do UOL

20/08/2021 15h19Atualizada em 20/08/2021 18h50

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Em meio à ampliação da crise política entre os Poderes, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse a assessores no Palácio do Planalto que pode deixar de obedecer às decisões de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). A coluna apurou que, em meio à irritação, Bolsonaro tem falado abertamente nisso, o que pode gerar uma ruptura.

No entorno bolsonarista, avalia-se que o presidente não fará trégua alguma junto aos outros Poderes da República. Bolsonaro busca ser visto por sua base política como um "mártir" e vai investir na crise.

As falas do presidente nos últimos dias se somam às declarações do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) na quinta-feira (19). "Prendem por fake news, não apresentam fake news, nem crime é fake news. Prendem por atos antidemocráticos. O que é ato antidemocrático? Prendem por milícia virtual. Vai chegar uma hora em que essas ordens, infelizmente, da maior Corte, de mais elevado nível do judiciário nacional, não vão ser cumpridas. Se continuar desse jeito", disse Eduardo, no programa "Agora com Lacombe".

Não é a primeira e nem a segunda vez que o deputado Eduardo Bolsonaro menciona a intenção de uma ruptura. Em 2018, ele chegou a dizer que só seria necessário um "cabo e um soldado" para "fechar o STF". Em 2019, ele sugeriu um "novo AI-5" e foi alvo de um processo no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. No entanto, o processo terminou arquivado em abril deste ano.

Bolsonaro ficou furioso com a prisão do ex-deputado Roberto Jefferson, um de seus principais apoiadores. Mas o presidente já tinha ficado revoltado com a prisão do deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), em fevereiro, também por ataques ao STF. Silveira, na ocasião, fez um vídeo com ofensas e ameaças aos ministros. A coluna apurou que ele queria impressionar o presidente em busca de apoio na reeleição em 2022.

Silveira chegou a ficar em prisão domiciliar com tornozeleira, mas voltou a ser preso em junho por desrespeitar o uso da tornozeleira. Nesta sexta-feira, o deputado Ottoni de Paula (PSC-RJ) e outros simpatizantes foram alvo de busca e apreensão por decisão do STF.

A desobediência às decisões do STF seria uma escalada sem precedentes na crise e também na História recente do Brasil.