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Juliana Dal Piva

REPORTAGEM

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No PP e investigada por rachadinha, ex-mulher de Bolsonaro quer vaga no DF

Colunista do UOL

01/04/2022 09h55Atualizada em 01/04/2022 13h52

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A advogada Ana Cristina Valle se filiou na quinta-feira (31) no PP (Progressistas) e, como a coluna adiantou no ano passado, vai disputar uma vaga a deputada distrital no DF (Distrito Federal). Atualmente, ela mora em Brasília, para onde transferiu seu domicílio eleitoral. Cristina, como é mais conhecida, é investigada junto com o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), por prática de rachadinha e nomeação de funcionários fantasmas no tempo em que foi chefe de gabinete do ex-enteado (2001 a 2008). Não é a primeira tentativa de Cristina na política. Em 2018, ela foi candidata a deputada federal pelo Podemos. Fez 4.555 votos e não conseguiu uma cadeira.

Os planos dela foram revelados em um perfil publicano na coluna no ano passado. No fim de janeiro de 2021, entre uma ligação e outra, ela atendeu a coluna enquanto preparava as malas para mudar a Brasília e colocava para alugar, por cerca de R$ 6 mil, a casa onde morava no bairro Morada da Colina, em Resende. "O filho pede help e a mãe atende", justificou, por telefone. "Vou advogar. Não vou montar um escritório, mas o que aparecer eu vou pegar. E vou ajudar no camarote 311, o negócio que ele abriu. Vou administrar, empresariar, o que for necessário. Sou pau para toda obra", contou ela, em tom de anúncio. Ela também se tornou assessora da deputada federal Celina Leão (PP-DF) e agora as duas farão uma dobradinha na campanha. Cristina como distrital e Celina na reeleição à Câmara dos Deputados.

Dez dias depois, ela desembarcou na Capital Federal. A mudança representava parte de uma estratégia. A segunda mulher do presidente Jair Bolsonaro voltou a viver em Brasília, depois de mais de 20 anos, para tentar pavimentar um caminho e lançar uma candidatura.

Mas a disputa eleitoral vai ocorrer em meio a diversos episódios suspeitos nos quais ela está envolvida. Em maio do ano passado, o MP-RJ (Ministério Público do Rio) pediu a quebra de sigilo bancária e fiscal dela, Carlos e outros investigados no caso da rachadinha. Os dados são analisados desde então.

Outras sete empresas também tiveram os sigilos quebrados no caso. Carlos Bolsonaro negou irregularidades. A defesa de Ana Cristina Valle lamentou o vazamento dos dados, na época, e disse que se manifestará nos autos. As investigações começaram depois de uma reportagem desta colunista e da jornalista Juliana Castro revelar na revista Época, em 20 de junho de 2019, que Carlos teve na lista de seus assessores pessoas que moravam fora do estado do Rio de Janeiro e até admitiram que nunca trabalharam para ele.

No núcleo de Ana Cristina, além dela, outras seis pessoas tiveram o sigilo quebrado. A lista inclui o publicitário André Valle e a fisiculturista Andrea Valle, ambos irmãos da ex-mulher do presidente. Gilmar Marques, que foi companheiro de Andrea e é pai da filha dela. Ainda, a professora Marta Valle, cunhada de Ana Cristina.

Em entrevista à revista Época, Marta disse que nunca trabalhou para Carlos. No entanto, ela constou como assessora de 2001 a 2009 e tinha um salário bruto de R$ 9,6 mil. "Não fui eu, não. A família de meu marido, que é Valle, que trabalhou", declarou.

Em julho de 2021, a coluna mostrou gravações de Andrea Valle que mostram ela admitindo que devolvia 90% do salário que recebia no período em que constou como assessora de Flávio Bolsonaro na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio), cerca de R$ 7 mil. Andrea também disse que o então deputado federal Jair Bolsonaro demitiu André Valle, irmão dela, porque ele não entregava os valores do salário combinados.

"O André deu muito problema porque ele nunca devolveu o dinheiro certo que tinha que ser devolvido, entendeu? Tinha que devolver R$ 6.000, ele devolvia R$ 2.000, R$ 3.000. Foi um tempão assim até que o Jair pegou e falou: 'Chega. Pode tirar ele porque ele nunca me devolve o dinheiro certo'", contou Andrea. O material está no podcast UOL Investiga - A vida secreta de Jair.

Mansão

Em junho do ano passado, ela e Jair Renan, o filho "04" de Bolsonaro, foram morar em uma casa no Lago Sul em Brasília. O imóvel, avaliado em R$ 3,2 milhões, fica a quatro minutos na Ponte JK, uma das áreas mais nobres e valorizadas da capital. A família do presidente alugou a casa de um homem que diz ter comprado o imóvel por R$ 2,9 milhões, em 31 de maio, dias antes da mudança de Jair Renan e Ana Cristina. Geraldo Antonio Machado, dono da casa, vive em uma outra, bem mais simples, na Colônia Agrícola de Samambaia, a 30 quilômetros do local, em Vicente Pires, cidade do Distrito Federal.

A coluna apurou que, casas com tamanho próximo a de Cristina, estão sendo alugadas na mesma quadra por cerca de R$ 15 mil. A advogada possui um salário líquido de R$ 6,2 mil.

O imóvel possui um terreno de 1,2 mil metros quadrados e cerca de 800 metros de área construída em dois pisos. Ainda tem quatro suítes. No anúncio de venda, obtido pela coluna, o imóvel é descrito com diversos requintes.

"Quatro suítes, com fino acabamento e todas com closet. Escada em mármore. Suíte master ampla com cerca de 100 m², abre para grande terraço com potencial para jardim, espaço fitness, solarium e outros. Closet amplo na suíte master, com excelentes armários planejados. Banheiro da suíte master com acabamento também elegante e de tamanho avantajado proporcionando conforto e espaço luxuoso. Duas suítes amplas localizadas na parte anterior da casa com amplas varandas que possibilitam vista parcial do Lago", dizia um trecho do anúncio.

Na nova residência, Jair Renan e Cristina possuem "salas amplas com quatro ambientes" e ainda "portas em painéis de vidro para varandas amplas, conferindo excelente ventilação, luminosidade e integração com o jardim e área de lazer". O espaço da sala de jantar possui pé direito duplo o que, segundo o anúncio, traz "modernidade e elegância ao ambiente".

A mansão possui uma piscina com 50 metros quadrados e conta com sistema de aquecimento solar. Há também escritório de "26 metros quadrados" e "dependência completa de empregada com armário". A mansão possui sistema de gás encanado e um lavabo "elegante, com acabamentos em mármore e granito".