Juliana Dal Piva

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'O pior é que está tudo documentado', diz Cid sobre escândalo das joias

Ao tomar conhecimento da descoberta do colar e brincos com diamantes presenteado pelo governo saudita à Presidência do Brasil, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), escreveu, em 3 de março deste ano, ao advogado e ex-secretário de Comunicação Fábio Wajngarten que "o pior é que está tudo documentado".

No diálogo de Whatsapp entre os dois, obtido com exclusividade pela coluna, Cid envia, às 19h36, daquele dia, a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo que revelava que as peças, avaliadas em cerca de R$ 5 milhões, foram apreendidas no aeroporto de Guarulhos, em 2021, com um assessor do ex-ministro de Minas Bento Albuquerque e que o ex-presidente tinha tentado recuperar os itens antes de viajar para os EUA, em dezembro de 2022.

Após receber a reportagem de Cid, Wajngarten escreve ao militar: "Eu nunca vi tanta gente ignorante na minha vida". No diálogo, porém, não fica claro a quem o advogado se refere.

Cid então responde a Wajngarten: "Difícil mesmo. O pior é que está tudo documentado". Na sequência, o advogado pergunta: "Documentado como? explique-me por favor". Cid, então, envia uma série de mensagens. O ex-ajudante de ordens, porém, apagou as mensagens depois e, no arquivo visualizado pela coluna, não foi possível saber o que ele disse.

A coluna teve acesso à íntegra das mensagens da conversa entre os dois entre 3 março e 4 de abril deste ano. Procurado, Wajngarten não quis comentar o teor dos diálogos. A defesa de Mauro Cid não retornou aos contatos da reportagem. Ao ler o material, a coluna verificou questionamentos do advogado para Cid à medida que a imprensa divulgava o caso desde o início de março. A PF apura um esquema de desvio de presentes dados à Presidência e desviados para o patrimônio pessoal de Jair Bolsonaro.

Relógio que faz parte de kit de joias da Chopard e foi negociado por Mauro Cid, segundo a PF
Relógio que faz parte de kit de joias da Chopard e foi negociado por Mauro Cid, segundo a PF Imagem: Reprodução

Aviso da Receita Federal

No mesmo dia 3, Cid gravou um áudio dizendo: "O presidente só ficou sabendo no final do ano, quando o chefe da Receita [Federal] avisou que tinha um bem presenteado para ele que tava ali. Então foi só bem no final do ano que ele ficou sabendo. Não sei dizer a data. Tanto que, em 2022, ninguém tocou nisso aí. Por isso, que entrou para leilão porque ficou mais de um ano". O chefe da Receita Federal, na ocasião, era Julio César Vieira Gomes.

Na gravação, Cid faz referência a um leilão da própria Receita para itens apreendidos por sonegação de impostos. No entanto, após a eclosão do escândalo, a medida foi suspensa, e o caso das joias passou a ser investigado. O kit estava com o ex-assessor do então ministro Bento Albuquerque, Marcos André dos Santos Soeiro, que participou da comitiva no Oriente Médio, em 26 outubro de 2021.

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Horas mais tarde, Wajngarten encaminha uma série de perguntas para Cid sobre a localização do segundo pacote de joias que incluia kit rosé da grife de luxo Chopard que entrou clandestinamente no Brasil. Uma das perguntas enviadas era onde estava o kit.

Cid escreve ao ex-secretário de comunicação: "Ele recebe centenas de presentes. Ele nem sabe o que ele recebeu nesses quatro anos".

Wajngarten então encaminha mais uma pergunta: "Mas onde está o acervo dele neste momento?". Cid é lacônico. "Não sei".

O ex-secretário de Comunicação questiona: "Quem cuida?". Então, Cid é evasivo e faz referência ao coronel Marcelo Câmara, outro auxiliar de Bolsonaro. "Deve estar em algum depósito. Cel Câmara", escreve Cid.

Demonstrando irritação, Wajngarten escreve: "Não pode ser. Pergunte a ele aí e a Célio e ao Pedro". Célio Faria e Pedro Souza foram chefes de gabinete de Jair Bolsonaro na Presidência, Faria também chegou a ser ministro da Secretaria de Governo.

Cid então encaminha uma foto do conjunto masculino e escreve que "não fala onde está o acervo".

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Fabio Wajngarten, advogado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)
Fabio Wajngarten, advogado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) Imagem: TON MOLINA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

Entrega para o TCU

De acordo com as mensagens, o advogado Fábio Wajngarten passou a defender a entrega das joias para o TCU a partir do dia 7 de março. Ao comentar uma reportagem que mencionava que o kit estava guardado em um galpão, Wajngarten escreve a Cid: "Acho que tínhamos de disponibilizar o bem imediatamente através do advogado". Naquele momento, Cid manifesta apoio: "Perfeito!".

O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, porém, não mencionou na troca de mensagens que o kit tinha ido com o ex-presidente para os EUA e quase foi vendido por ele em Nova York, como foi descoberto pela PF na "Operação Lucas 12:2" a partir de outros dados do próprio celular do Cid.

Em 9 de março, Wajngarten escreve novamente a Cid: "Tem que devolver imediatamente. É impressionante como ninguém pensa".

Wajngarten também foi intimado a depor na quinta-feira (31), mas optou pelo silêncio por atuar na defesa de Jair Bolsonaro.

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