Trump e Biden declaram a guerra do "medo do crime" X "luta pela democracia"
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Mais do que falar de seus planos de governo para os próximos quatros anos, o presidente Donald Trump e o ex-vice-presidente Joe Biden procuraram aumentar a rejeição um do outro nas convenções dos partidos Republicano e Democrata. Os eventos oficializaram os dois candidatos que vão disputar o comando dos Estados Unidos.
Esses encontros, que aconteceram nas últimas duas semanas, são exemplos típicos de campanhas negativas, nas quais o mais importante é dar ao eleitor um motivo para não votar no adversário. É mais um voto contra do que a favor.
Trump reeditou a estratégia do medo de 2016, que deu certo contra a democrata Hillary Clinton. Biden colocou foco na pandemia de coronavírus e afirmou que os Estados Unidos precisam ser retirados do atual "período de trevas", pois o republicano ameaçaria a democracia.
O presidente, que disputa a reeleição, fez um discurso para amedrontar o eleitorado branco e conservador, sobretudo o dos subúrbios americanos. O objetivo principal pareceu ser pregar para os convertidos a fim de unir a sua base tradicional e evitar perda de votos. Republicanos contra Trump discursaram na Convenção Nacional Democrata, abrindo dissidência que leva conservadores moderados para o lado de Biden.
O republicano demonizou os protestos contra o racismo estrutural e a violência policial. Referiu-se com ironia a "manifestantes pacíficos", num contexto em que as pessoas que foram às ruas desejariam a destruição da polícia e do sonho americano. Basicamente, Trump disse que a América dos brancos corre o risco de acabar se Biden for eleito. "Ninguém estará a salvo nos Estados Unidos de Biden."
Esse discurso de apocalipse democrata também busca tirar a pandemia do centro do debate. Numa disputa política, especialmente numa campanha eleitoral, leva vantagem quem consegue ditar o principal tema do debate público.
Trump evita falar da pandemia e aposta no medo da criminalidade
Nos quatro dias da Convenção Nacional Republicana, a pandemia foi praticamente ignorada. Quando mencionada, era no falso contexto de que o combate ao coronavírus estava sendo um sucesso e de que Trump seria o grande responsável por tal êxito.
Mas é mentira. Os casos se aproximam dos seis milhões. Mais de 180 mil pessoas morreram nos EUA devido à covid-19. A pandemia não está sob controle, apesar de ter havido uma diminuição no número de casos diários, especialmente nos estados do sul e do oeste americano que viveram momentos difíceis neste verão.
Quando troca o coronavírus pelo risco de destruição da polícia com um consequente aumento da violência nas cidades americanas, Trump repete a estratégia que deu certo em 2016. Assusta um eleitorado branco e conservador que foi vital para a sua vitória há quatro anos. Ao ignorar a pandemia, Trump foge do debate sobre um tema no qual está em franca desvantagem.
Os democratas procuram deixar a pandemia em primeiro plano, querendo que a eleição seja um grande referendo sobre a forma como Trump respondeu ao coronavírus. Segundo as pesquisas, dois terços dos americanos desaprovam a forma como o republicano enfrenta a covid-19.
Biden reforça a questão da "ameaça à democracia"
Além do coronavírus, a ameaça à democracia americana também permeou os principais discursos da Convenção Nacional Democrata. "Talvez a história venha a dizer que o fim deste capítulo de trevas americanas começou nesta noite, com amor e esperança e luz juntos numa batalha pela alma da nação", disse Biden no encontro democrata.
Trump é um presidente que mente e distorce o tempo inteiro. Segundo a rede de TV CNN, houve mais 20 menções falsas ou imprecisas no discurso de 70 minutos feito pelo republicano na noite de quinta-feira. As próximas pesquisas vão mostrar se a estratégia do republicano poderá dar certo. Até agora, ele está atrás de Biden no voto nacional e nos estados que são decisivos para formar maioria no Colégio Eleitoral.
O democrata parece ter pressentido o risco de crescimento de Trump. Biden anunciou que deverá viajar para alguns atos políticos presenciais em estados importantes para vencer a eleição, deixando a sua casa em Wilmington, no estado de Delaware.
Parece resposta ao comício que Trump fez na Casa Branca em plena pandemia, contrariando recomendações sanitárias do próprio governo sobre eventos que possam disseminar a covid-19. Os debates presidenciais previstos para o fim de setembro e outubro serão também uma rodada fundamental na atual disputa eleitoral.
Há exagero, mas Trump tem um pouco de razão ao dizer que se trata da "eleição mais importante da história dos EUA". Dá para dizer que se trata de uma eleição que terá efeitos importantes para o mundo inteiro, como aconteceu em outros momentos da história americana.
O resultado da disputa presidencial de 3 de novembro dará um sinal importante para o futuro dos EUA e do planeta, apontando um caminho rumo à civilização com a derrota do republicano ou dando fôlego a líderes de extrema-direita que estimulam a barbárie global, como Trump e o presidente Jair Bolsonaro.
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