Ao recusar transição normal, Trump fomenta falsa teoria de fraude eleitoral
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O presidente Donald Trump recusou ontem o compromisso de fazer uma transição pacífica de poder para alimentar a falsa teoria de que uma vitória do democrata Joe Biden ocorrerá devido a fraudes com os votos enviados pelo correio. Com sua atitude autoritária, ele também estimula reações violentas de setores de sua base em caso de derrota.
Trump sabe que a tendência neste ano é perder de novo no voto popular, a exemplo do que aconteceu em 2016 na disputa contra Hillary Clinton. Mas o republicano tem a esperança de conseguir invalidar votos pelo correio num provável questionamento judicial da apuração eleitoral. Nesse cenário, ele imagina conseguir a vitória na eleição indireta do Colégio Eleitoral, na qual é preciso ter o apoio, no mínimo, da maioria absoluta (270) dos 538 delegados.
Indagado ontem por um repórter se ele se comprometeria a realizar uma transição pacífica de poder, como é a tradição da bicentenária democracia americana, ele respondeu: "Bem, vamos ver o que acontece. Você sabe que eu venho reclamando fortemente sobre os votos por correio, e esses votos por correio são um desastre".
O presidente pediu que esses votos por correio sejam eliminados para que haja uma transição, mas, logo em seguida, disse que não aconteceria uma transferência de poder porque ele seria reeleito. As pesquisas indicam que mais eleitores democratas tendem a votar via correio do que os apoiadores do republicano.
Motivada pela pandemia, uma votação postal em larga escala deve atrasar a apuração do resultado eleitoral. Analistas dizem que, provavelmente, a apuração poderá demorar dias ou até semanas para ser encerrada. No cenário em que sejam contados antes os votos de eleitores que comparecerem presencialmente às urnas, é possível que haja uma onda inicial mais favorável a Trump. Ele poderia cantar vitória na largada e tentar uma ordem judicial para encerrar rapidamente a apuração.
Avalia-se que, com a contagem dos votos via correio, Biden poderia virar o jogo ao longo dos dias. Isso tudo é especulação hoje, porque cada estado tem as suas regras de votação e apuração, o que adiciona incerteza à velocidade da apuração em tempos de pandemia, mas analistas avaliam que dificilmente haverá um resultado oficial na noite de 3 de novembro, a data das eleições.
Batalha judicial à vista
Trump já disse que pretende aprovar logo uma indicação para a Suprema Corte a fim de evitar um eventual empate em caso de batalha judicial pela contagem de votos. Com a morte de Ruth Bader Ginsburg na sexta passada, está aberta uma das 9 vagas da Suprema Corte.
O presidente afirmou que deseja que o tribunal esteja com a composição completa para evitar eventual empate de 4 a 4 se uma nova ministra não assumir a posição de Ruth Bader Ginsburg. Há temor de que se repita uma disputa judicial a exemplo do que aconteceu em 2000 entre o republicano George W. Bush e o democrata Al Gore.
Outro complicador que incendeia o debate eleitoral: em 2016, os republicanos se recusaram a aprovar uma indicação de Barack Obama para a Suprema Corte em ano eleitoral. Agora, eles não querem seguir o precedente que abriram.
Acusando os republicanos de hipocrisia, os democratas têm defendido que a vaga na Suprema Corte seja preenchida pelo presidente eleito. Mas Trump prometeu anunciar a sua escolha às 17h deste sábado. Há duas juízas federais conservadoras entre as mais cotadas, Amy Coney Barrett e Barbara Lagoa.
Com a estratégia de alimentar o caos, Trump enfraquece a democracia americana e estimula conflitos entre as bases democrata e republicana. Há setores republicanos que creem em teorias de conspiração sobre a confiabilidade do voto via correio.
O histórico dessa modalidade de votação nos Estados Unidos mostra que ela é segura. Mas Trump a tem atacado com frequência, o que mina a crença de segmentos da sociedade americana na democracia.
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