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Leonardo Sakamoto

Bolsonaro fugindo de falar de Onyx lembrou Onyx fugindo de falar de Queiroz

Gustavo Bebianno e Onyx Lorenzoni e Jair Bolsonaro - DIDA SAMPAIO/ESTADÃO CONTEÚDO
Gustavo Bebianno e Onyx Lorenzoni e Jair Bolsonaro Imagem: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista do UOL

31/01/2020 20h15

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Após ser questionado sobre o futuro de Onyx Lorenzoni, ministro-chefe da Casa Civil, o presidente Jair Bolsonaro encerrou uma entrevista coletiva, na frente do Palácio da Alvorada, nesta sexta (31), usando a sua tática preferida: atacar a imprensa, jogar para a torcida e fugir.

"Já que deturpou a conversa, acabou a entrevista." Depois virou para a sua sempre presente claque de fãs e disse que a ideia era falar do coronavírus, mas como a imprensa começou com outras perguntas, ele saiu fora. "O que queremos é solução ao Brasil, não problema." E lá se vão mugidos de apoio e júbilo.

Bolsonaro está insatisfeito com os desdobramentos para a sua imagem da confusão causada após a exoneração-nomeação-exoneração do ex-secretário executivo da Casa Civil, Vicente Santini - que chamou um Uber da Força Aérea Brasileira para levá-lo da Suíça à Índia.

(Lembrando que o problema não foi o rolê, mas ele ter sido pego - como diria o filósofo Al Bundy. Até porque o próprio Bolsonaro já tinha deixado claro que aeronaves da FAB são o bonde dos amigos, quando transportou parentes para o casamento do filho.)

O episódio contribuiu para reduzir (ainda mais) o poder da pasta de Onyx e leva-lo ao cadafalso. O presidente estaria procurando, agora, alocar o apoiador de primeira hora em outro lugar.

A cena de Bolsonaro encerrando a entrevista por não ter o que dizer se assemelha à outra cena envolvendo o seu fiel escudeiro, Onyx, em 7 de dezembro de 2018. O então futuro ministro-chefe da Casa Civil abandonou uma coletiva de imprensa, em um evento empresarial em São Paulo, depois de não saber como responder às perguntas de repórteres.

O tema? Um tal relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), que apontara uma movimentação atípica de R$ 1,2 milhão de Fabrício Queiroz - até então um obscuro ex-assessor do deputado estadual e, na época, senador eleito Flávio Bolsonaro. No dia anterior, reportagem de Fábio Serapião, do jornal O Estado de S. Paulo, mostrara que R$ 24 mil desse montante haviam sido destinados à Michelle Bolsonaro. Jair disse que foi a devolução de uma dívida, mas isso não foi provado.

Na coletiva, os repórteres queriam saber qual a origem do dinheiro. A pergunta era simples e demandaria uma resposta direta. Mas não foi isso o que aconteceu. O futuro ministro primeiro usou o PT como muleta, depois teceu uma resposta quase filosófica sobre a busca da verdade e terminou atacando os repórteres antes de fugir da coletiva - tal qual Jair Bolsonaro faz sistematicamente.

A queda de Onyx Lorenzoni provaria, mais uma vez, que Bolsonaro não confia na própria sombra, mesmo quando a sombra faz tudo para agradá-lo - de defender seus filhos a abraçar Olavo de Carvalho. Deveria ser obrigatório que todo ministro demitido desse uma entrevista coletiva para desabafar. Difícil imaginar o que falaria um ex-chefe da Casa Civil diante da sensação de abandono e do rancor. Mas a República adoraria tentar...