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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Governo do RJ aposta que eleitor topa corrupção e aumenta sigilo de dados

Governador Cláudio Castro (PL) - Antonio Cruz/Agência Brasil
Governador Cláudio Castro (PL) Imagem: Antonio Cruz/Agência Brasil

Colunista do UOL

19/08/2022 12h45

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O governo Cláudio Castro (PL) adotou uma nova forma de resolver escândalos de corrupção. Pego no flagra, esconde as informações sobre o problema. Mostra, assim, ser um bom aluno de Jair Bolsonaro - que baixou sigilos de 100 anos para evitar ser questionado por ações praticadas por ele e seus filhos.

Uma série de reportagens de Ruben Berta e Igor Mello, para o UOL, mostrou que Castro vem usando órgãos ligados à educação, como a Fundação Ceperj e a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), para bancar pessoas ligadas a aliados políticos.

As reportagens, que levaram a uma investigação do Ministério Público, contam um cenário de terra-arrasada: cargos secretos, funcionários-fantasma, alunos de mentira, vultuosos saques em dinheiro, rachadinhas, enfim, financiamento de cabos eleitorais de aliados com recursos que deveriam ser gastos na construção do futuro.

Mas, no fundo do poço, eis que surge um alçapão. Após reportagem do UOL mostrar que R$ 593,6 milhões foram usados em programas com folhas de pagamento secretas envolvendo a Uerj, o que fez a universidade? a) aumentou a transparência para garantir que a sociedade civil e a imprensa ajudassem a fiscalizar e corrigir irregularidades; b) bloqueou o acesso às informações.

Se escolheu a opção "b", parabéns. Você conhece bem o Brasil e o Rio.

Foram colocados sob sigilo processos de prestação de contas onde estavam disponíveis folhas de pagamento de projetos bancados com recursos do governo fluminense na Uerj. Basicamente, a universidade alega proteção aos dados dos envolvidos, apesar de ter bloqueado muito mais do que as folhas com informações pessoais.

Não é novidade que governos que desejam esconder malfeitos estejam deturpando a Lei Geral de Proteção de Dados, usando-a para atropelar as conquistas trazidas pela Lei de Acesso à Informação. Mas há casos que são muito, mas muito descarados.

Questionada sobre o bloqueio, a Uerj afirmou que "os processos mencionados não se encontram sob sigilo e sim com acesso restrito". Na novilíngua da esfera de influência do bolsonarismo, o fuzilamento da transparência tem vários nomes.

A universidade prometeu divulgar tudo em setembro. Ganha um ingresso para ver o Flamengo no Maraca quem apostar que isso só vai acontecer depois das eleições.

Pesquisa Datafolha, divulgada nesta quinta (18), coloca o governador Cláudio Castro com 26% das intenções de voto, tecnicamente empatado com o deputado Marcelo Freixo (PSB), que tem 23% - a margem de erro é de dois pontos.

O escândalo dos cargos secretos, cuja engenharia faz o do orçamento-secreto do Congresso Nacional parecer coisa de amadores, começou a ser revelado pelo UOL em 30 de junho. Até agora, isso não causou um grande impacto na imagem de Castro. E, ao que tudo indica, o governo quer que permaneça assim.

Duas possibilidades: o eleitorado ainda não ficou sabendo ou não se importa com as evidências de que o dinheiro que seria usado na educação está sendo destinado para a Festa da Fruta Eleitoral do governo.

O absurdo de esconder dados após uma denúncia é tão grande que, muito provavelmente, a gestão Castro aposta na segunda opção.