Topo

Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Ao espalhar terror em Brasília, bolsonarismo reforça sua natureza miliciana

Colunista do UOL

12/12/2022 23h15

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Um grupo de 200 seguidores do atual presidente resolveu espalhar o terror em Brasília na noite desta segunda (12). A justificativa de que protestavam contra a prisão de um líder indígena bolsonarista acusado de atos antidemocráticos e de ameaçar Lula foi mera desculpa para extravasarem o ódio pela diplomação do petista, ocorrida hoje no Tribunal Superior Eleitoral, e para espalharem o caos almejado por Jair.

Ao cometer uma série de crimes, queimando e depredando dezenas de carros e, pelo menos, cinco ônibus, lançando paus e pedras em agentes de segurança e tentando invadir a sede da Polícia Federal, bolsonaristas colocaram em risco vidas de policiais e de cidadãos comuns - que se refugiaram em pânico em um shopping center, em hotéis e em restaurantes. Repelido por policiais, parte do grupo dirigiu-se ao hotel onde Lula está hospedado, que teve segurança reforçada.

Com isso, revelaram sua face real ao naco da sociedade brasileira que cisma em ver manifestantes onde só há golpistas. Essa violência bolsonarista que atropela a lei e as instituições é típica de um projeto de sociedade miliciana, onde a Justiça é trocada pelo justiciamento. Na qual cada um é instado a resolver com as próprias mãos suas discordâncias, ignorando as regras e a Constituição.

Decisão judicial pode ser criticada, mas deve ser cumprida. Quem discorda disso é bandido.

Esses bolsonaristas já haviam cometido uma série de crimes ao exigir, na porta do quartel-general do Exército, que os militares baixassem um golpe de Estado, passando por cima do resultado das urnas e mantendo Bolsonaro no poder. Agora, tocaram o terror na capital federal, desenhando para quem não entendeu a real natureza do seu movimento.

Os vídeos que estão sendo transmitidos, muitas vezes pelos próprios criminosos, mostram cenas que não deixam nada a dever a filmes de guerra. Em resposta, policiais federal e militares usaram bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha.

O bolsonarista José Acácio Xavante foi preso por ordem do ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, que, por sua vez, atendeu a um pedido da Procuradoria-Geral da República. Investigação da PF apontou que ele é figura constante em uma série de atos antidemocráticos.

Jair Bolsonaro torce para que o caos se instale em todo o Brasil a fim de justificar uma intervenção das Forças Armadas. Para ele, cenas deploráveis como as da noite desta segunda são colírio para seus olhos chorosos. Não importa que, posteriormente, repudie o que aconteceu. No fundo, ele quer é mais.

Influenciadores digitais, muitas vezes a milhares de quilômetros de Brasília, incentivam os bolsonaristas a partirem para a violência. Não é a mão deles que quebra, destrói e incendeia, mas é a sobreposição de seus discursos que empodera os golpistas. São tão culpados quanto os criminosos.

Para azar de Jair, as forças policiais não aderiram ao vandalismo e atuaram para proteger os cidadãos e evitar mais ações criminosas. Essa, contudo, não foi a última vez que veremos esses grupos milicianos agindo para desestabilizar a democracia.

Mais cedo, durante a diplomação de Lula no TSE, o ministro Alexandre de Moraes prometeu que quem atenta contra democracia será punido no rigor da lei. Esperemos que todos os que participaram desta noite de crime estejam entre eles.

Em tempo: As imagens de carros e ônibus em chamas em Brasília estão circulando pela imprensa internacional. Com isso, o mundo inteiro pode ver o que nós, brasileiros, já sabemos: que o bolsonarismo, além de um movimento miliciano de extrema direita, também abraça o crime e o terror.