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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

PGR pede para STF ignorar que Bolsonaro mentiu sobre covid, vacina e Aids

Reprodução/Facebook
Imagem: Reprodução/Facebook

Colunista do UOL

16/02/2023 19h55

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É de onde não se espera nada que não vem nada mesmo. A subprocuradora-geral da República, Lindôra Araújo, próxima à família Bolsonaro e uma das principais aliadas de Augusto Aras, pediu ao STF o arquivamento de inquérito envolvendo o ex-presidente. Jair tinha mentido ao dizer que a vacina contra a covid-19 poderia causar Aids e afirmar que máscaras causavam pneumonia. Olha aí, Brasil, do que você se livrou - por muito pouco - no dia 30 de outubro.

Isso bate de frente com a Polícia Federal, que concluiu que ele atentou contra a paz pública e cometeu crime. O que aponta que parte da PGR continua protegendo Jair, mesmo com ele fora do poder e exilado perto da Disney.

"As falas questionadas, se merecem crítica, devem ficar sujeitas ao debate político e eleitoral, mas não penal, dado seu caráter fragmentário e só incidente quando clara a violação ou colocação em risco do bem jurídico relevante", escreveu Lindôra Araújo.

Em outras palavras, juridiquês, passada de pano, juridiquês, mais passada de pano, juridiquês.

Não é espantoso que Bolsonaro tenha contado mentiras que ajudassem a morte, afastando brasileiros da vacinação e do uso de equipamentos de proteção contra a pandemia. Pelo contrário, isso é o que esperávamos dele dado o seu necroprojeto. O surpreendente é que não perdeu o cargo por isso. Nem suas contas em redes sociais e aplicativos de mensagens.

Desde o início da pandemia, ele utilizou Facebook, Twitter, Instagram, YouTube, WhatsApp, Telegram, entre outras, para sabotar o combate à covid-19, propagando informações que colocaram em risco os brasileiros, ajudando a construir a montanha de mais de 698 mil mortos.

Após a mentira sobre a Aids, que ainda teve o demérito de reforçar o estúpido preconceito contra pessoas com HIV, ele viu o YouTube remover a live em que afirmou tal aberração e lhe aplicar um gancho de uma semana. Também presenciou o Facebook tirar o material do ar. O Twitter sinalizou que o conteúdo era mentiroso. Ações, portanto, pontuais.

"Não se tratou de uma mera opinião", afirma o relatório da PF, "mas sim de uma opinião de um Chefe de Estado, propagada com base em manipulação falsa de publicações existentes nas redes sociais, opinião essa, que por ter a convicção de que atingiria um número expressivo de espectadores, intencionalmente, potencialmente promoveu alarma".

De acordo com a lei, somos responsáveis pelo impacto que a divulgação de nossas declarações causa e sujeitos a sofrer as punições caso usemos nossa liberdade contra a dignidade de terceiros. Menos Jair, que usou sua posição como presidente e redes sociais com milhões de seguidores para promover a morte.

Para quem acha que esse tipo de mentoria não existe, vale lembrar da cartinha redigida pelo terrorista George Washington de Oliveira, que apontou Jair Bolsonaro como a grande inspiração para os seus atos.

Ele é um dos três responsáveis por plantar uma bomba em um caminhão de combustível a fim de tentar explodir o Aeroporto Internacional de Brasília no dia 24 de dezembro.

O documento foi descoberto pela perícia da Polícia Federal no telefone do terrorista e publicado originalmente pelo portal Metrópoles. Nele Oliveira escreve com todas as letras que Bolsonaro "despertou esse espírito em nós".

Também destacou que o então presidente afirmou "em quase todos os seus pronunciamentos" que "o povo armado jamais será escravizado", deixando claro que ele aprendeu a lição.

Bolsonaro sabendo do que uma parcela dos seus seguidores era capaz, alimentava-a através das redes sociais. Com negacionismo, golpismo e violência.

Agora, a PGR quer fazer crer que não houve nada em seus atos que mereça ser levado a julgamento. Uns vão dizer que a posição de Lindôra e de Aras é minoritária na Procuradoria-Geral da República. Mas essa posição continua garantindo que um presidente com um rosário de crimes nas costas seja tratado como inimputável.