Leonardo Sakamoto

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Opinião

Bolsonaro diz que sua Reforma Tributária zerou imposto de jet ski e veleiro

Ainda aborrecido com a aprovação com folga da Reforma Tributária pela Câmara dos Deputados, o ex-presidente Jair Bolsonaro passou um belo recibo, nesta terça (25), ao tentar convencer que, como o governo Lula, ele também vinha fazendo uma reforma.

E destacou o que seria uma de suas "conquistas": reduzir o imposto cobrado sobre o jet ski dos ricos.

"A Reforma Tributária, eu vinha fazendo com o Paulo Guedes. Reduzimos em um terço o IPI de 4 mil produtos, zeramos o imposto de importação de muita coisa, como games, jet ski, veleiros", afirmou em um evento do PL na Câmara Municipal de São Paulo.

Na verdade, reforma é algo muito mais complexo que um simples corte de impostos. Aprovada pela Câmara em 7 de julho, a PEC 45/2019 simplifica a taxação sobre o consumo no Brasil, criando um Imposto sobre Valor Agregado, que reúne tributos federais (IPI, PIS e Cofins) e estaduais e municipais (ICMS e ISS). O Brasil tentava aprovar uma proposta nesses moldes há três décadas, o que é fundamental para a economia. Daí, o ciúme do ex-presidente.

A citação ao jet ski não foi aleatória, uma vez que o texto da reforma, que está sendo analisado pelo Senado, prevê a cobrança de IPVA sobre esse tipo de embarcação, além de iates, lanchas, helicópteros e aviões - que, hoje, são isentos, ao contrário de carros, motos e caminhões.

Criticando o ministro da Fazenda Fernando Haddad e o presidente Lula, Jair bateu na PEC aprovada na Câmara com o apoio do governador Tarcísio de Freitas, seu afilhado político, de 20 deputados federais de seu partido, da maioria dos setores econômicos e dos semoventes.

E, como já fez em outras oportunidades, aproveitou para defender a isenção de impostos para ricos e atacar a taxação progressiva sobre heranças. Diz que isso "taxa quem produz".

Depois de afirmar à plateia de colaboradores e apoiadores que eles terão que pagar mais imposto (o que é provável se forem representantes do 1% mais rico da população, alvo da segunda fase da reforma, que deve tratar da renda e do patrimônio), Jair engatou um discurso psicodélico, que começou no jet ski de rico e terminou em xingamentos a Lula.

"Quando dizemos de jet ski, dizem que estamos pensando no rico. Na marina tem um montão de gente pobre que vive disso. Estimula o turismo. Facilitamos a aquisição de carteira de habilitação para jet ski e de hidroavião. O Brasil é uma pista, o Brasil é uma grande pista para hidroaviões. Quero turismo de hidroavião na Amazônia para mostrar para o mundo que aquele trem não pega fogo. Hoje o Canada tá em chamas, ninguém fala nada aqui no Brasil, ninguém, quer dizer, a mídia tradicional, né? Todo ano pega fogo na Califórnia, ninguém toca no assunto. Quando alguém aqui exagera na festa de São Joao, aquilo passou a ser um foco de calúnia no Brasil. Problemas, pancadas... Pancadas por que? Porque o país é maravilhoso, ninguém tem o que nós temos. A quem interessa, levem-se em conta alguns países europeus, países mais ao Norte, interessa eu ou um entreguista na presidência da República? Um analfabeto? Um jumento, por que não dizer assim?"

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Jet ski, vale lembrar, foi um dos símbolos do seu governo durante a pandemia. Sempre que desejava mostrar indiferença diante das centenas de milhares de mortes por covid-19, ele cavalgava um no lago Paranoá ou em viagens pagas pelo contribuinte no Guarujá (SP) e em São Francisco do Sul (SC).

Apenas nessas duas cidades, o gasto de Bolsonaro no cartão corporativo nas festas de final de ano de 2020 a 2022 foi de R$ 1,16 milhão, incluindo apenas combustível, hospedagem e alimentação.

Pode se dizer muita coisa de Jair, menos que ele não sabe aproveitar bem os tributos. Os nossos, no caso.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL