Leonardo Sakamoto

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Opinião

‘Burro demais’, Wassef incrimina Bolsonaro com estratégia suicida do Rolex

Era compreensível o temor de Mauro Cid, ex-faz-tudo de Bolsonaro, e Fabio Wajngarten, advogado de Jair, sobre o envolvimento de Frederick Wassef no processo de recuperar um Rolex que havia sido dado de presente pelos árabes ao Brasil e vendido para a glória financeira do ex-presidente. "Burro demais", sentenciaram em uma conversa obtida pela Polícia Federal.

Agora, na noite desta quarta (16), em uma churrascaria, a PF apreendeu quatro celulares com o tal "burro demais", como rescaldo da operação que havia feito busca e apreensão junto ao general Mauro Lourena Cid, pai do ex-faz-tudo, suspeito de intermediar a venda de joias em Miami.

Exatamente por conta desse atraso entre o início da operação na última sexta e o confisco do smartphone ontem, pode-se especular que Wassef já estava usando novos equipamentos e os anteriores descansariam inertes no fundo do rio Pinheiros após toda a comunicação ser apagada da nuvem (coisa que Cidinho esqueceu de fazer, revelando o esquema).

Mas estamos falando de Frederick Wassef, réu por chamar uma funcionária negra de uma pizzaria de "macaca", conhecido por atacar jornalistas mulheres e que teve a pachorra de muquiar o coordenador das rachadinhas da família Bolsonaro, Fabrício Queiroz, no seu próprio imóvel em Atibaia (SP), para evitar que fosse preso pela polícia. Ou seja, uma pessoa que se sente inatingível.

Aliás, quando Queiroz foi preso, Wassef disse que Bolsonaro não sabia de sua decisão de ajudar o seu ex-faz-tudo. A justificativa é a mesma que usou agora, jurando que Jair não pediu para ele ir aos Estados Unidos e gastar 49 mil dólares na recompra de um Rolex dado pela Arábia Saudita ao Brasil.

As trocas de mensagens entre bolsonaristas mostram que estavam em pânico tanto com a iminência do TCU pedir as joias de volta quanto com a possibilidade de Wassef ir buscá-las nos Estados Unidos. Tinham razão.

Em uma desastrada coletiva à imprensa (olhaí, novamente ele se vendo como inatingível), disse: "O meu objetivo quando comprei esse relógio era exatamente para devolvê-lo à União, ao governo federal do Brasil, Presidência da República, e isso inclusive por decisão do Tribunal de Contas da União". Com isso, confirmou que Bolsonaro vendeu patrimônio público usando aliados.

Questionado para quem ele entregou o relógio, complicou ainda mais os envolvidos no esquema ao dizer que não podia falar. Mas a investigação apontou para Mauro Cid como tendo recebido o pacote em março deste ano - ou seja, a mesma pessoa que havia vendido para um comprador nos EUA em junho de 2022..

Ironicamente, dias atrás, Wassef havia dito, indignado, que não fazia ideia de que joias eram essas e que havia sido envolvido injustamente. Agora, reconheceu que não apenas sabia como decidiu comprar o relógio de volta usando seus recursos pessoais, como um bom samaritano.

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Bolsonaristas graduados chamaram o aliado de "wasséfalo" por conta da estratégia suicida, que acabou piorando a já ruim situação do ex-presidente. A família Bolsonaro, por outro lado, o chamava de "anjo". É hora de a polícia e a STF ouvirem o que os celulares do anjo têm a dizer.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL