Vexame dos móveis deveria ser a deixa para Lula esquecer Bolsonaro
Lula disse que Bolsonaro levou móveis do Palácio do Alvorada pertencentes ao patrimônio público ao deixar o poder no final de 2022. Agora, um novo levantamento feito pelo governo federal e revelado pela Folha de S.Paulo mostrou que todos os 261 itens "desaparecidos" estão lá, parte em um depósito. O evitável vexame deveria servir para o presidente parar de falar de Jair e deixá-lo para a polícia e para a Justiça.
No início de 2023, a discussão sobre as condições em que a residência oficial foi entregue envolveu a atual primeira-dama, Janja, e a ex, Michelle. Imagens de um Alvorada surrado e sofrido vieram a público, mostrando a falta de cuidado dos ocupantes anteriores. O debate também envolveu o "sumiço" dos móveis.
Quando a gente acusava o coleguinha de ter feito algo que ele não havia feito, por mais que o coleguinha seja uma peste e tenha feito coisas muito piores (como tentar um golpe de Estado), nossos pais ensinavam desde cedo que o caso é de pedir desculpas.
Mas quem espera isso, deve esperar sentado. A resposta oficial da Presidência da República aponta que "o relatório que diz que 261 móveis estavam perdidos foi emitido no dia 4 de janeiro, concluindo um trabalho feito durante o governo Bolsonaro e finalizado pela equipe do governo anterior. Foi essa a informação recebida no início desta gestão".
E continua: "Ou seja, quem não sabia onde estavam os móveis era a gestão anterior, parte deles abandonados em depósitos e sem controle". Também afirma que isso "não quer dizer que os 261 móveis encontrados estavam em condições de uso".
Em outras palavras, para o governo, Lula usou a informação que tinha em um momento em que havia uma bagunça no Alvorada. Portanto, não teria dito nada de errado.
Bolsonaro aproveitou a deixa para dizer que o seu sucessor fez uma "falsa comunicação de furto". E o bolsonarismo já circula nas redes que a "falsa comunicação de furto" prova que houve "falsa comunicação de golpe".
Ou seja, o fato de Lula ter errado sobre os móveis "provaria" que Bolsonaro é perseguido — uma bobagem de narrativa, mas que vai ser usada ad nauseam no seu processo de vitimização em andamento.
Lula precisa parar de citar o ex-presidente em discursos cotidianos, como fez na reunião ministerial da última segunda (18), quando o chamou de golpista "covarde". Cada vez que ele faz isso, mesmo que rapidamente, fora de um contexto eleitoral, traz um político inelegível e investigado por golpe de Estado de volta para a pauta do dia.
E, lembrando sempre de Jair, o petista acaba escondendo na mídia as conquistas de seu próprio governo. O que não é uma boa ideia neste momento em que sua aprovação cai.