Leonardo Sakamoto

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Opinião

General Heleno quis espionar Lula enquanto era ele o vigiado sob Bolsonaro

O general Augusto Heleno contou, na reunião ministerial de 5 de julho de 2022, que pretendia infiltrar agentes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) na campanha de Lula. Mal sabia que ele mesmo tinha sido alvo de monitoramento pelos próprios subordinados. Espião que espiona espião também tem cem anos de perdão? Há quem torça por isso.

A informação de que seu telefone funcional foi arapongado pelo programa israelense First Mile, que rastreia a movimentação, foi revelada por Renata Agostini, no jornal O Globo, nesta quarta (27). Ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, ele mandava no chefe da Abin, Alexandre Ramagem (PL-RJ), hoje deputado federal e pré-candidato à Prefeitura do Rio.

Mandava em tese, claro.

Paranoico, Bolsonaro sempre confiou apenas em si mesmo e, no máximo, em seus filhos da política. Por isso, alertei aqui em janeiro que iríamos descobrir um sem número de aliados entre as vítimas da arapongagem. A vigilância sobre Augusto Heleno, um de seus conselheiros mais próximo confirma isso.

Mas também abre uma questão: se o seu governo foi capaz de espionar o general, que era tido como seu BFF, imagine então outros aliados?

Uma pista disso já havia sido dada quando, em 23 de fevereiro, descobrimos que, entre os espionados pela Abin paralela estavam o então youtuber e hoje deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) e um ex-assessor de Bia Kicis (PL-DF) que participou de atos antidemocráticos em Brasília.

Tanto Gayer quanto Kicis são considerados extremamente leais ao ex-presidente, tal como Augusto Heleno. Os nomes constaram em reportagem também de O Globo, como parte de uma lista de políticos, jornalistas, ambientalistas, caminhoneiros e acadêmicos que também foram espionados utilizando o First Mile.

Não tenho dúvida de que fiéis seguidores de Jair podem até pedir perdão pela traição sofrida. O próprio Gayer estava no alto do carro de som, no 25 de fevereiro, na avenida Paulista, defendendo o ex-presidente ao microfone para uma multidão. Contudo, e os parlamentares do centrão que um dia foram aliados?

Já tínhamos a informação de que os ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, do STF, o então governador Camilo Santana, o então presidente da Câmara Rodrigo Maia, os então deputados Joice Hasselmann e David Miranda, o ex-deputado Jean Wyllys, os jornalista Glenn Greenwald e Leandro Demori, a promotora Simone Sibilio (que esteve à frente das investigações do assassinato de Marielle Franco), o diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística Carlos Dahmer e o então chefe de fiscalização do Ibama Hugo Loss estavam entre os que tiveram seus movimentos rastreados.

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Quem mais? O procurador-geral da República, Paulo Gonet, colocou-se contra a divulgação imediata dos nomes espionados porque acredita que "o compartilhamento de informações sensíveis neste momento pode comprometer o resultado da apuração". Mas alvos têm o direito de saber quando foram vigiados.

Como já questionei aqui, quanto de conteúdo de espionagem foi obtido, baixado e levado embora pelo núcleo bolsonarista? Há informações em posse do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), um dos alvos da investigação, apontado como suposto beneficiário da espionagem? Quanto disso ainda pode ser usado por Bolsonaro no futuro?

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL